quarta-feira, fevereiro 02, 2005

VOZES

VOZES QUE POSSA OUVIR

Não são elas importantes, vozes de varias esferas do ser interno. Como as explique, faz diferença enquanto simplesmente as ouça?

A loucura consiste em impedir que as diversas facetas de seu ser brilhem quando nelas incide a luz. Por que o faria, por que as darias de costas ignorando o brilho. Temes que este te ofusque? Temes se perder dentro da revelação?

Entretanto quanto mais te conheces, não seria o tanto mais que se tornaria peculiar, único, indivisível?

Vozes que possa ouvir, joviais, vulcânicas, afrodisíacas, martelantes, paliativas, hercúleas, vibrantes, hídricas, leoninas, enigmáticas, apolineas, apologéticas, pânicas, musicas, tirânicas, carentes, criticas, distantes, buliçosas, belicosas, belas…

Todas as vozes que tenha.

Simplesmente assim fossem aceitas, uma humanidade inteira dentro do seu ser, todo o universo que ecoa com seu nome nos lábios. A voz que possa ouvir te conduziria sem erro ao centro de seus assuntos, ao significado de todos seus mundos e eventualmente se colocaria silente, calma, perpetua, como um vento quieto vindo do mar distante.

Se podes ouvir um riso que seja, percebendo a face e o vigor duma personalidade completa. Encostada a um canto só te olhando, amiga, companheira. Vozes que tivestes, vozes que terias, vozes que nunca imaginaria serem suas, vozes que por não o serem o definem, o explicam, demonstram suas cores.

Vozes que te questionam, que sentam a teu lado e desconcertam enquanto fazes algo privado e intimo, que lêem sobre os seus ombros movendo silenciosamente os lábios, vozes que parecem te criticar mesmo falando do tempo e das flores. Vozes que não consegues ouvir, intermitentes, falhadas, com ecos de distancias enormes. Vozes do seu estômago, da unha do pé, do comichão na cabeça. Vozes do gato de casa e do da vizinha, do passarinho e da lagartixa morta, da floresta que pegou fogo, da mudinha no vaso. Minha face, sua face. O alienígena que fala de naves a espera do colapso da humanidade e do mundo, Pacal Votan e profecias Maias, vozes escritas em pedra milhares de anos atraz, vozes nos nomes das coisas, pintadas nas paredes de cavernas, vozes de animais caçados, extintos, domesticados. Vozes das plantações, a voz do inverno, do verão, de uma roupa tingida de vermelho, de uma arvore derrubada a machado, de amantes deitados a sombra.

E essas todas são da vizinhança conhecida e nomeada, e as que estão alem dos nomes, das frequências que permitam a lógica e o senso comum, de amplitude incontável, de energia inexprimível em meros sons terrestres… Ou tão minúsculas ou fragmentadas, tão comuns que não se as considere, e as que estão por entre a dobra das coisas ou nos limites aonde uma coisa se torna outra. Entre a agua e o leito do rio, entre o fogo e a lenha, entre a pele e o ar.

O que diriam todas as vozes que ouça. Como te falam, o que te dizem? Fossem todas só uma, fosse a uma de tudo, que reflexos, que facetas? A que hora do dia te falariam de coisas simples e corriqueiras, quando te fariam confidencias, quando te diriam coisas terríveis, quando coisas lindas?

E se não fosse matéria de que te digam as vozes, mas da pergunta – ouves tu o que te dizem as vozes? A voz, o espirito? Credes tu que o mundo é silente, indiferente, apático; que viaja emburrado e entropico rumo ao desligar do sol. Ou percebes entre os dedos os espaços, entre as linhas e os silêncios vozes diversas que conversam contigo da vida e do ser, da viagem que fazes neste mundo de sonho.

Mensagem de uma Voz, recebida em 22/10/02

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