segunda-feira, agosto 29, 2011

Revoltas na Inglaterra e outras coisas relacionadas

Veja primeiro com subtitulos:
Fala indignada de um senhor Britanico à BBC Londres
ou em ingles no video original:
London Riots. (The BBC will never replay this. Send it out)

Achei interessante como não só o que o Sr Darcus Howe (ele é um radialista das West Indies que vive em Londres a 50 anos) fala soa intensamente verdadeiro, mas como fica claro no "subtexto" de todo o dialogo dele com a "entrevistadora" que existe uma forte "gag order" (uma ordem de ficar mudo) por parte da imprensa e da policia quando se tenta falar mais abertamente. A entrevistadora claramente indica que existem coisas que podem e que não podem ser ditas! Isso é fenomenal, e indica uma ditadura silenciosa e insidiosa que ordena os modos de ser, agir, pensar...

Esse video, para mim mostra claramente a similaridade, a correspondencia direta do fenomeno arabe "tão longe de casa" e o fenomeno do "jovens baderneiros nas vizinhanças de Londres"... que incomodo! E no entanto tão exatamente a mesma coisa. Um mundo que não aguenta mais a exclusividade dos desejos impossiveis vendidos pela midia, e que são o motor economico e a motivação aparente das sociedades modernas. A opressão ditatorial e ideológica em qualquer lugar, com controle de imprensa e dos comportamentos é identica a opressão economica, e talvez mais honesta por ser um inimigo evidente, que na democrática Inglaterra ou qualquer simile paraiso de liberdade para o desejo e consumo. Só que os instrumentos são um pouco diferentes, a Ditadura cala na paulada (é obtusa) a Democracia dos poucos cala por depreciar, ou por desmerecer, ou por francamente ignorar outras vozes, ao mesmo tempo que induz uma frequencia de ordem unida na vibração do alarido das sirenes (sereias) subliminais do consumo.

Conversava com um amigo meu sobre a responsabilidade da propaganda, ele é do ramo. Não sei se voces sabem mas a grande maioria das empresas de propaganda do mundo são controladas de modo draconiano por apenas 2 mega holdings inglesas! Se alguma coisa cheira a Big Brother (do Orwell não da Globo) ai está algo para os paranoicos mastigarem. Esse amigo tem o discurso padrao da midia dos desejos que reza que a propaganda apenas apresenta o produto, ele só é um sucesso se for realmente bom e coisa e tal... Ora propaganda é apenas assim como um anuncio classificado, compre meu carro usado, ou minha bicicleta... Engraçado, não me parece assim, quando na tv anuncios induzem as crianças a infernizarem os pais para comprar isso ou aquilo, estudos dizem que os pais compram. Atordoados e sem reflexão sobre suas vidas na corrida de ratos, que é vista como business as usual, um fato da vida, os pais correm para atender mais essa demanda imprescindivel. Quantas demandas imprescindiveis, exclusivas, por tempo e estoques limitados, únicas e fundamentais, que definem nosso proprio carater e quem somos como pessoas, que podem nos aproximar de modo inexoravel das condições ideais de conforto segurança e paz que almejamos, com aquele parceiro cheiroso, limpinho, eternamente sorridente e bonito, quantas dessas sugestões que nos "produtificam" podemos aguentar? Até que explodam os excluídos que não podem ter o exclusivo, até que sacudam as grades os bárbaros que não entendem que aquilo, não é pra eles... Na verdade aquilo, não é pra ninguem, nenhuma pessoa real cabe naquele sonho, nenhum planeta ou vida suporta a manutenção infinita e distribuída dessa proposta...

Abri uma revista de automóveis, eles me fascinam ao mesmo tempo que me dão muito desgosto. Vejo um Cadillac top de linha que acelera de 0 a 100 em 3 segundos e que faz uma volta em Nurburgring (um famoso circuito de corrida alemão) em 7 minutos, preto, quase 600 cavalos (sem incluir o dono), vejo que a revista toda é feita não do automóvel, mas desse brilho em torno do automóvel, uma coisa inefável que lhe dá um tipo de existencia especial, pois voce tem acesso, enfim, a algo tão incrivel que te transforma, te reveste, e te faz especial. Claro não se fala nada que esses carros saem de estampas mecanicas, e que os parafusos tem roscas iguais e para o mesmo lado de todas as outras roscas e parafusos, ou que a tinta arranha e desbota, e que o brilho e o valor se perde a partir do momento que o bólido sai da agencia. Eu fiquei espantado com a revista, americana e online, sem saber aonde começava a reportagem sobre equipamentos mecanicos de deslocamento em apoio sustentável a existencia social, e aonde estava a ficção e a trama do incensamento de desejos, e a aplicação da camada de um feromonio sutil feito para atrair as bestas para a armadilha fatal.

Para alguns é o Cadillac, para outros o Adidas, ou a ZARA (que emprega os Bolivianos novos-escravos, ilegais nos Sweat shops em SP). Ou a enorme legião chinesa cativa que vai nos inundar de tudo aquilo que queremos até que a gente e o mundo sufoque...

Por esse caminho, e os governos do mundo parecem sempre apenas oferecer mais do mesmo, não vai dar. E se formos por ai me parece que o cenário Mad Max dos humanos num mundo devastado e cheio de sucata não é tão improvável. Imagino que os humanos regredidos e selvagens nesse cenário se tornem caçadores e coletores de latas e trecos que ainda funcionam, gotas de gasolina aqui, um badulaque ali. Trogloditas da nova era... "Recicloditas" em tribos nomades na terra devastada...

Claro isso é um cenário apenas, um exagero gráfico pra tentar criar anticorpos a perfeição fotografica de um mundo de defuntos. Existem muitas outras coisa acontecendo em paralelo, que com sorte emergirão do tecido das relações do Homem consigo mesmo e com o Mundo, e vicejarão por terem um DNA mais afeito a vida nessa nova época. Entretanto, parece que essa é a hora dos fortes, e possivelmente dos pequenos. "Vinde a mim as criancinhas", os ratinhos, as baratas, os humildes... Quem sabe, os perdidos e revoltados... Esses não vem de Cadillac a 250 por hora, esses marcham em tenis furados, lentamente vão chegando a um fim de mundo, o fim de uma festa idiota e banal, que não quer se abrir para a vida.

Sei que as palavras são fortes, e negras, mas na realidade essa é a visão apenas sobre o problema, do modo como eu o entendo. A solução começa no interno de cada um, pela lucidez diante dos fatos, pela simplificação da vida, pelo voto de proteger e ajudar tudo o que é vivo e tudo o que tem sentimento, pelo entendimento do que é a liberdade real, pela pacificação do coração e mente e tantas coisa mágicas e maravilhosas, acessiveis gratuitamente a qualquer um que as desejar.

sexta-feira, julho 22, 2011

A Escolha da Ponte




Onde está a ponte entre nossas melhores aspirações e o “mundo real”. Parece que não pertencemos a esse mundo, brigamos com ele constantemente ao extrair dele nossa subsistência, entretanto também parecemos não pertencer ao mundo das nossas melhores aspirações, visto que muitas vezes nos sentimos em conflito ao não conseguir esboça-las nem nos menores gestos. Incoerentes, incoerentes com a força de vida que nos anima, incoerentes com o que às vezes vemos, de que todos somos um...

Entretanto também “incoerente” é a luz difusa do sol que nos ilumina, deixando sombras às vezes macias, às vezes agudas, mas uma luz intensa que reflete em toda a parte e vem iluminar mesmo aquilo que está por trás. Uma luz que busca superar a limitação natural da luz de ser sempre reta, e reboteia nos cantos pra retornar e iluminar o lugar escuro. Incoerente essa luz, que ao invés de ir embora ao espaço insiste em ficar mais um pouco e nos aquecer, nos espelhos e labirintos de nossas delusões.

Acordo com meu coração apertado, ontem vi mais uma vez o dilema impossível de ser um arquipélago de solidão, onde mora um desejo de juntar as partes e se tornar terra inteira.

Mas não era exatamente assim que eu queria entrar por essas idéias...

Essa manhã Ana acordou chorosa, discutimos ontem, a briga de casal mais boba no meio duma festa de ideais elevados, o dia final do ciclo de diálogos pela educação e pela paz, que tínhamos ido assistir no Rio. Talvez essa seja a metáfora perfeita, sei lá, pra mostrar como tantas e tantas vezes nossas ideias tentam ir numa direção, mas nossas ações e até palavras vão mesmo é pra outro lado... Claro que existem, ou podem existir, razões complementares para a melancolia da Ana, isso me alivia de ser a fonte de toda a sua tristeza nesse momento.

Penso que talvez a razão de termos nos bicado feito periquitos apertados na mesma gaiola possa ser, no fundo, a mesma sensação de não pertencer. De não pertencer àquilo, de não saber o que fazer com aquilo, de ter a cabeça doendo com a dificuldade de conciliar as abstrações mais fantásticas com a realidade de nosso pequeno mundo de casal. Nossa vida doméstica, entre o ruído da geladeira que sempre pede o mercado, e a rotina dos dias que os faz iguais, e que faz o tempo escorrer das mãos sem aquele registro incomum que faz o ritmo da vida ficar mais colorido, mais memorável.

Diante de um Lama, dum Pastor, dum Pedagogo, duma Educadora, e de outra Educadora, dum Catedrático, de uma Santidade Tibetana, nossa vida se apequena, e se revela. Diante do zoom sideral e do microscópio que suas visões nos proporcionam o espaço do meio se revela faltando, carente, desconectado. Uma parte de nós se desmonta frágil, e não sabemos ou não vemos por que recompor, ou refazer...

É uma consciência que vem acachapante, excessiva, incompatível, exigente... incoerente com o que é o nosso normal. Difícil vibrar com suas ondas largas, tsunamicas. Difícil se sentir índio nessa floresta aonde não conheço nenhuma planta ou bicho. Dói se sentir humano e no entanto não se sentir herdeiro da vida, na verdade dói se sentir incompatível com a sustentação da vida e da felicidade. Como se fossemos seres amargos demais, seres errados e velhos demais, um desvio infeliz que a vida tomou que a tornou impar dela mesma... Um casal que briga... Uma melancólica ponte partida sem ninguém para reconstruir.

Entre o céu e o inferno fiz a minha casa, os tijolos dela me protegem e me oprimem, lá me elevo e me crucifico, lá eu amo e cometo violências. Incoerente meu pulso tortura a vida e não se afina, não se afilia e se sente de ponta a ponta incompatível, alienígena, estrangeiro. É de novo a velha história do pecado original, só que dessa vez não é por que ninguém me disse, é por que me dói no peito esse desajeitamento de lidar com a vida, por que o meu amargo já desceu pelas artérias até a ponta dos dedos, e quando toca a existência, a faz sub existência, arrancando suas joias pra um baú escuro, guardando flores secas em alfarrábios empoeirados, montando bibliotecas enormes duma historia natural que eu mesmo assassinei...

Trágico, exagerado, excessivo? Fica a advertência que minha pecha e um fascínio pelas frases de efeito... não significa sabedoria, que o meu excesso de perguntas pode não levar à pergunta fundamental ou à reflexão importante, que essas reticencias que insinuam que compartilhamos um segredo podem não ser nada mais que apenas minha falta de resposta. O que não me impede de continuar mais um pouco.

As questões são tão grandes, tão maiores que o sofá da sala, que a mesa e as cadeiras, que as lâmpadas queimadas. Minhas mãos parecem não conseguir tocar, e a clausura de ser esse humano parece a cada minuto mais se fechar, pra ser tão errado talvez fosse melhor não existir. Tola vaidade achar que posso “não existir” pra resolver a equação da dor e disparate.

Por outro lado simplesmente existir, na confiança e na gratidão que isso, mesmo a dor, se mantem por compaixão... difícil. Simplesmente existir na fé que do seio da vida emergirá uma nova força inusitada, apesar da loucura dos tempos, e que as arvores enormes de nossos enganos tombarão cedendo lugar a outras de frutos mais jovens, mais vitais e suculentos. É possível que isso seja assim mesmo, que dessa era que se vai não surja o profeta ou a visão que explique o fim de si mesma. Ela, era, simplesmente se vai, seus sistemas e órgãos falem, seu corpo enorme apodrece e fermenta, aduba raízes sem nenhum valor, plantas sem nenhuma chance, as ultimas mais fraquinhas... permanecem.

Pode ser que o mundo acabe, mas como disse o Lama, o problema é com o Samsara. O Mundo surge no olhar. Pode ser que o mundo continue, e o que vem de bom cresça em igual proporção com o que vem “de ruim”, é só mais roda, é só mais giro. Não se sabe se os que residiam aqui eram mesmo mais felizes, a gente só imagina. Ou mesmo se todo dia era, era mesmo dia de índio. E o mesmo que desceu da espaçonave, pode ter nela retornado pro seu Olimpo indígena. Ficamos aqui com os cacos e impressões, com os sonhos do que é ser da terra, com a terra. Com os sonhos do que é ser uma família humana vivendo num paraíso de dádivas, com os sonhos do que é ser pacifico e bom, com os sonhos de que em algum lugar e em algum tempo já foi possível pensar num amanhã, ou no mínimo aguarda-lo com segurança tranquila, com fé, com confiança... Só que esses seres ideais, dessa sociedade ideal, não nos deixaram escritos ou ideias, penso comigo que eles os que viveram como índios antes de nós foram uma ainda ingênua proto-experiencia dum porvir possível, dum humano possível. Massacrados pelo nosso trator moderno, não deixam a receita de ser como foram, deixam em nós a saudade de quem seriam se os fossemos, hoje, filhos e herdeiros.

Não podemos traduzir os seus textos, só podemos contata-los num espaço sutil e ouvir suas vozes como música da própria terra. Como podemos habitar essas almas como podemos resgatar essa humanidade perdida, e renascer, resignificar o futuro? Como podemos seduzir e acolher cada um dos bilhões de humanos, um a um na trama de sua herança viva numa nação da Terra? Não sei se minha alma reencarna, isso pode nem ser importante, creio no entanto que o sonho da vida se reencarna constantemente, e explora as múltiplas possibilidades abertas a vida e ao bem. As condições auspiciosas que criamos e que deixamos permitem que a vida encontre essas avenidas, e possivelmente se recorde de nós com saudade também. Se essa fosse a Bossa Nova, se esse Chorinho chorasse por isso, se o batuque dos atabaques e do Kuarup nos acordassem para esse mesmo coração, essa seria a contribuição do ser brasileiro nos destinos da terra, muito mais que chegar a Marte, chegar à Vida.

Busco, ou quero... rogo, encontrar a amplidão dum espaço antes e além de toda a separatividade, por ouvir Deus soando compassivo e poderoso na canção da vida para colocar a imensidão dentro do gesto menor. Para em cada ato conseguir traçar nos três tempos o acolhimento da inocência, o perdão da dor e da tragédia, a aceitação do doce e do amargo da vida, o estar inteiro num corpo que vive e morre que dói e goza. Estreito sendo amplo para tecer uma existência plena, educada e lapidada, numa sociedade global e múltipla, aonde Budismo significa um anseio coletivo pela lucidez, pela plenitude da liberdade na manifestação da vida. Aonde viver significa optar pela felicidade.

Guga Casari

Petropolis 22 de julho de 2011

domingo, julho 03, 2011

Pensamentos, aspiração, meditação e sonho - colagem

Muitas coisas na nossa situação moderna me enchem de agonia e preocupação. A nebulosidade as questões a nossa frente não se dissipa mesmo com as macro analises que nos apresentam tantos analistas modernos. Impossivel encontrar uma clara palavra de ordem, ou nitidez quanto a que ação tomar para o encaminhamento do futuro. A coisa não parece realmente estar em nossas mãos, e entretanto sentimos que nós humanos, justamente em função de nossa manipulação, seremos a causa de nossos sofrimentos futuros... Como podemos ser tão impotentes diante de nós mesmos? Eu realmente não sei responder e isso me entristece.

Recentemente li dois artigos interessantes, um sobre a falsidade do mito do pensamento apocaliptico e fatal e outro sobre a falsidade do mito do pensamento dum futuro glorioso e prometido aos justos. Nada nos safa completamente do enrosco de sermos humanos, entretanto lá no fundo em nossas mais elaboradas e racionais teorias surgem esses mesmos mitos para nos assombrar ou nos confortar. Acrescentaria a esses dois mitos mais dois o da crença num passado glorioso do qual decaimos bem como o de nossa origem em pecado. Não vou entrar aqui no finesse argumento, crendo que voces podem meditar sobre essas questões e entender esses pontos de vista. Eu pessoalmente não creio por exemplo na completa derrocada do capitalismo, mesmo enquanto almeje que a humanidade encontre um modo mais saudável de conviver com a mãe terra, suas dádivas finitas e com todo o resto da irmandade da vida que coabita essa esfera. Nada de bom para mim parece vir da aposta, e no esperar essa derrota, e na final ascenção prometida dos justos e dos bons ao paraiso (e pode-se ai ler, classe operária, os oprimidos, etc). Acho todo o julgamento moral que vem desse monóculo, desse jeito tão resolvido e monológico de encarar a realidade, um pouco cruel.

Penso no modo budista de encarar o que é o tempo, "os 3 tempos", Passado, Presente, Futuro como realidades não distantes, mas desdobramentos de minha propria consciencia, agora no não tempo. Toda a melancolia e enraizamento do passado, toda a promessa ou inquietude do futuro, toda a possibilidade ou imobilidade do presente só são reais agora. Dessa perspectiva qual é a questão real, aonde fica o fulcro mais fundamental aonde apoiar a minha pequena alavanca, se é que minha função é realmente deslocar qualquer coisa rumo a algum desfecho. Num espaço aonde nenhuma referencia existe, aonde não existem alavancas ou fulcros o primeiro arqueiro distendeu um arco e projetou uma uma flecha, a primeira dançarina apoiada em nenhuma superficie se lançou no silencio e fez música. E enquanto a gravidade nos precipita nesse plano e nos dá horizonte, a biologia nos faz verticais para alcançar frutas e estrelas. Dançamos e lançamos flechas, e suponho que o universo não faça conta de nosso começo, ou conte com nosso fim. Apenas surge agora atraves de nós, coom milagre. Um milagre que eleva a folha da grama recem cortada para que brote de novo. A folha de grama não se incomoda que eu pense que a vida está cansada de viver, ela apenas executa o milagre que é e brota de novo, sem fazer questão de explicar nada a ninguem. Sem esperar a derrocada do cortador.

Aguardo e peço por esse mesmo milagre, que me infunda de propósito e animo. Que me oriente por dentro mesmo quando o norte distante me escape da vista. Acredito que lá no fundo minha humanidade não esteja tão perdida, nem meu bom senso ensurdecido que não vá ouvir a voz do bom senso, ou se esqueça de navegar o vento abençoado da vida. Não por que me aguarde um futuro glorioso, ou por que um passado de virtude me garanta bonança, mas por que a vida me quer vivo, nos quer vivos. Por que a vida não nos cobra os pecados, ela só nos guarda bem, eternamente.

Tive um sonho enquanto meditava:

Me encontrava de costas para uma grande muralha que contornava um grande reino. Ao longo de sua enorme extensão lado a lado estátuas de grandes seres assustadores se encostavam nas paredes. Pude cruzar o gigantesco portão, e ao faze-lo percebi que a muralha corcoveava por sobre as montanhas altas em torno dum amplo planalto, a perder de vista, fechando-o ao sul, norte, oeste e leste. O portão era um de quatro e dele seguia uma estrada de pedras até o centro do planalto, como faziam outras tres vindas das outras entradas cardeais. Quatro rios seguiam para o centro, advindos do sudeste, nordeste, sudoeste e noroeste. Magicamente se encontrando no centro em um lago de prata. No centro uma espira gigantesca, um torreão agudo sobre um bulbo colossal apoiado em escadarias titanicas. A viagem tomou dias, passei por inumeras vilas, cheguei a um dos oito portos cruzei o lago cheguei a lha sagrada. Subi uma das desesseis encostas, passei pelo lado da enorme fundação e entrei por um arco monumental decorado de brocados. La dentro havia um palacio enorme, mouro e todo de ouro, com 4 entradas. Subi a escadaria colossal de marmore verde, adentrei o palacio. Encontrei uma enorme piramide e a galguei, no seu topo um imenso cristal iluminava todo o mundo. Cada face sua era a face de um ser da criação, de titãs ao mais infimo atomo, mergulhei nesse cristal, em sua luz. O mundo se dissolveu sem deixar de existir, em cima em baixo, frente verso, dentro fora... todas as faces da criação cantavam. Fiquei lá tempo incontável.

Acordei, desci a piramide, sai do palácio, atravessei o arco e sai da espira, encontrei o porto, cruzei o lago de prata, retornei na estrada e atravessei os povoados e me despedi dos anfitriãos, subi as encostas escarpadas, cruzei o muro, e o portão se fechou. Tinha retornado para o lado sul, para minha horta, pro meu telhado, pros meus instrumentos, pros meus familiares... A luz do cristal me acompanhava, me atravessando desde um centro que eu não posso entender, enquanto resido com os meus, tratando de minhas coisas, no lado sul da muralha guardada por demonios de pedra...

domingo, junho 19, 2011

Mais sedução menos destruição

Essa coisa de sedução é um enrosco, como é a homofobia. Não vou dizer que sou o bem resolvido nessa questão homo-hetero, honestamente, eu tenho minhas (muitas) dificuldades e dúvidas. Mas uma coisa me saltou na mente, e não dá pra evitar comentar. E o que saltou é como a questão da masculinidade a toda a prova só permite que um homem seduza (convença) outro homem através da violência... Seduzir é convencer, é mostrar suas razões, sentimentos, motivações, com a intenção de claro, fazer o outro “entrar na sua” ou ao menos acolhe-lo, aceita-lo, etc. Seduzir é permitir-se ser admirado, é divulgar seu mundo interno, e por que não dizer compartilhar.

Entretanto o que acontece, de macho pra macho, é só porrada, ao menos é um exagero de porrada. É tanta macheza que chega a ser homo sádica e o gozo é um cogumelo nuclear ou coisa parecida, e a criação é o arrazamento de tudo que é vivo... Curioso. Um bocado de Shiva, talvez um bocado demais.

Muitos já se debruçaram sobre esse assunto, é que eu acho engraçado de repente, entender do que eles estavam falando. Doida essa coisa, e por que? Por que surge competição corruptora da alma no lugar em que poderia existir admiração, apoio e aprendizado. Por que surge o desprezo pela sabedoria da idade e pela inocência da juventude naqueles que se movem rápidos e ágeis rumo a lugar nenhum? É engraçado como alguns se pavoneiam se enchendo de músculos, ou com um desses carros bully com essas grelhas de bocarra e cheios de parachoques e pneus.

Imagino que um Faraó no Egito fosse uma figura sedutora, tanto para mulheres como para homens. Por outro lado não creio que seja uma “era da mulher” algo a se desejar, como contraponto desse exagero de testosterona. Tipo assim, não quero maltrata-la, mas não quero me dissolver na Mãe Terra.

Confuso?

É assim, homem que não abraça homem, que não admira e até ama (a lá ágape ok?) homem, acaba por conseguir só convencer o outro (homem) na base do obus, do projétil, da espada. Não existirão flechadas mais nobres, que tocam mais fundo na alma do outro. O problema pode ser o feedback, o retorno sabe? Aquela coisa de tocar e ser tocado. Tanto que a guerra está se tornando remota, um verdadeiro terror clinico da perversão homosádica. Falar sem ouvir, vender sem comprar, vida sem música e sem dança. Só pisada no pé

É, só estou fazendo uma colagem, e não, não vou editar nadinha do que está aqui. Mas eu quero aprender a ouvir, pra não ficar desse jeito torto de ser de gênero degenerado, de gênio embrutecido. Falo como uma vagina. Grosseiro... ? Mas elas estão por ai sem voz, ou sem ouvidos, enquanto os caralhos estrupeiam, estuporam tudo. Não me entenda mal, caralhos são coisas de deus também, o que não é? Só que homens não são caralhos e mulheres não são vaginas, mesmo que sejam fortemente influenciados pelos supracitados órgãos e hormônios predominantes...

Como explicar, gentilmente, sem soar grosseiro, mas abrindo picadas nessa floresta de pentelhos pra entender esses chackras lá embaixo, e como se embolam, e como a coisa vira guerra e dominação.

É ao menos curioso, como a coisa toda dessa energia primitiva e natural vai se torcendo. Pode ser que os moldes que temos pra ela simplesmente não mais a contenham, e ela está rasgando as costuras dessa carne de zumbi mal costurada em cima da nossa luz verdadeira.

O que leva a pergunta, vamos sobreviver a nós mesmos? Tinha um filme outro dia, SKYLINE, tenebroso, em que a humanidade simplesmente sucumbia completamente a uma invasão alienígena. Acabava TODO MUNDO. Não tinha marines ou seals, nem um velho pracinha da FEB pra salvar o dia. O pau comeu solto e os homens, dançaram... no filme. Engraçado ver um desejo de morte tão graficamente explicita numa película, dizendo assim que tem uma hora que não dá, e aí? Claro que o Universo não deve ser tão cruel como aquilo que conseguimos imaginar para nós, ele me parece mais mellow e inclinado a promover a vida. Mas e se a gente pisar bastante na bola? Quem sabe a gente não aporrinha bastante o Kosmos e ele se cansa dessa humana bactéria auto importante?

Entenda-me bem! Não é isso que eu quero! Au contraire! Muito pelo avesso! Por que nosso certo é o torto, então o de dentro deve ser o de fora. Pra dizer um finalmente nessa colagem de deficiência de atenção.

Facebook, é fogo no cerrado, e parece indicar que essa é a era de Ágape, de amor de amizade. Quer amor mais fraterno do que o amor do amigo? Eu espero que ao poder compartilhar o que é o interno em cada um nessa nova pescaria com rede, a coisa vá encontrando um ritmo mais natural e a humanidade vá desistindo de realidade catástrofe em prol duma coisa mais bacana e divertida nesse planetinha MA-RA-VI-LHO-SO!

domingo, abril 24, 2011

Um Espaço Sem Vibração

Ali estava

não com uma sensação de vida ou de morte

nem com ritmo de baiao ou de valsa

é um lugar do intersticio, que não é bem o meio, e tambem não é em volta

não é exatamente o espaço, ao menos como entendo espaço

é um lugar que não tem sono, mas tambem não tem estar acordado

não é assim como se fosse quieto, é diferente

mas é tambem mais igual

 

Eu sento ali, eu sinto ali, eu penso ali. Mas os pensamentos não fazem muita diferença.

Falando assim parece um lugar chato, sem graça. Não é.

Talvez não seja um lugar.

É um lugar aonde as coisas mudam, é um lugar que se não fosse assim um espaço quieto, as coisas não mudariam. Nem existiriam.

Pode ser que se este vazio, pra chamar de alguma coisa, não fosse assim quieto e calmo, não pudesse haver a raiva, ou o amor e não haveria um intervalo entre eu e voce.

Não haveria esse lugar aonde existe eu e voce, aonde a luz bate no meu olhe e me penetra, aonde a luz vira eu enquanto te vejo.

Nesse espaço sou a dor no mundo, e sou a cura. Sou a visão intoleravel e o murmúrio acalentador.

Nesse espaço sou a vida em Avydia. Me divido e não me separo, me avido. Surjo enquanto surge o meu engano, sofro enquanto sofre o meu mundo, perdoo por que surjo apartado.

Quieto, misterio indizivel, bardo estranho, não explicado. Não é a vida, nem é a morte, é distinto e alem, é tão intimo e proximo mais que igual.

Permeia atravessa, difere define, digere engole, circunda determina, apazigua, intensifica. Não vibra, não toca, percebe, ignora.

quarta-feira, março 23, 2011

A Visita de Obama - Resposta a critica de antiamericanismo - O Indio

Com a visita de Obama outras coisas também batem a porta, buscando acolhimento e recepção. Não posso deixar de responder a critica sobre o antiamericanismo que saltou para alguns nas minhas palavras. São partes desse meu discurso que foram entendidas como contendo imagens retrogradas. Talvez eu estivesse tentando fazer graça a um publico cativo, e buscando a concordância que surge da rejeição. Talvez, como um café requentado não se presta para o prazer, o amargo da forma ultrapassada de exprimir não deixa passar um sentimento de graça.

Dentro da visão que sinceramente busco projetar está uma palavra de ordem da Abordagem Integral – “Transcender e Incluir”. E hoje escutei uma interpretação de transcender em inglês (de todas as línguas...) Trance – End: encerrar o transe. Acabar com o aspecto hipnótico da separatividade, e assumir a responsabilidade e o cuidado com a relação...

Não quero nem preciso defender as formas de expressão e as perspectivas que usei – Imperador, Império, Augusto, Tribo – que remetem a nacionalidades, a uma visão particular da história, a ideologias e a formas estreitas de ver. Acho importante traze-las a baila, melhor seria se o humor ficasse mais aparente e a rizada sobre o ridículo dessa relação fosse impulso para a conquista de novas perspectivas. Pode ser que meu texto e eu mesmo não estejamos lá muito bem humorados, perdão. Uma expressão Americana diz “Deixe que os cachorros que dormem continuem deitados”. Isso pode ser sábio no inicio para não incensar um passado de mágoa, mas eventualmente a gente tem que falar da mordida do cachorro, isso é terapia e cura.

No Chile, ouvi, cobrou-se de Obama uma posição pela participação Americana na ditadura, parece que não houve resposta. É e duro reatar laços com gente que ficou magoada, mas que apesar disso se abre ao contato e ao dialogo. Por isso ainda aparece esse nacionalismo subjacente a minha gozação, nacionalismo que gostaria estivesse mais evoluído em mim mesmo isento de etnocentrismos e ideologia. O contato traz a lembrança inevitável duma mágoa imaginada e ou real, do ressentimento, e por que não da inveja. Outra expressão “Todo mundo de olho no Numero Um”, por admiração e por inveja/ressentimento, pelo desejo de seguir e pelo medo de ser atropelado... São sentimentos rejeitados, mantidos na sombra, que inesperadamente visitam e tomam conta do discurso neste e naquele acorde.

Ora, o mundo não é mais um lugar de Números Um, se alguém é Numero Um nessa frágil bolota é a vida e suas inter-relações. Cada vez fica mais evidente que o que importa é o movimento da criação que a gente identifica vindo da intencionalidade e “projeto” de um ser (ou de um não ser) magnifico e todo poderoso, a Teia da Vida para dar um nome. O Numero Um tem que ser todas as relações e estruturas que surgem desse local trans-material, dessa força mágica e imensurável que brota em Tsunamis, em paixões, na formiga e no elefante... A gente, partícula, brinca ou às vezes leva a serio essa dança. Um filosofo, Americano, Alan Watts, diz que como de uma arvore de maçãs pode se dizer que “maçanzeia” (dá maçãs, se torna maçãs), podermos do nosso planeta dizer que “Genteia” se torna em gente, dele brota essa coisa que somos enquanto somos ele...

Então claro diante desse aspecto amplo não existe essa divisão, e a experiência Americana e a Brasileira são a experiência das gentes e do planeta no seu processo de “Gentear”. São partes desse genteamento que está querendo dançar e dialogar. Creio cada vez mais que ainda não nos tornamos a gente que Gaia sonha. Sinto nos ossos-bussola, lá dentro, como profecia que está para surgir uma Humanidade nova, igual e diferente. Daí que me empolga imaginar que Brasil e EUA possam se afinar, para mim o novo mundo surgiu aqui Feminino e lá Masculino, e para mim a própria forma dos continentes mostra um casal de mãos dadas, dançando.

Por que esse processo da história pode ser um namoro e um acasalamento de ideias e modos de ser, de reprodução e mutação. O que é visto como dialético se a gente olhar com clareza, deveria ser chamado de Trialético. Da tese à antítese à síntese, a transformação da história resulta em evolução. E evoluir é revisar conceitos, abandonar cidadelas, criar novas formas mais inclusivas, vitais e complexas. Evoluir é ampliar o espectro de aceitação, de possibilidades, e da capacidade de aceitar paradoxos. Temos a despeito de nossas piores intenções, evoluído. Mesmo que às vezes isso pareçamos ter sido um erro terrível, e que a Terra estaria melhor sem nós, é vaidade achar que sabemos o destino que a criação imanta em nossos ossos, e por que investe e sustenta e nos “adquire” nesse processo temporal do próprio solo bruto do planeta. Sensato é ouvir seu impulso gentil, e nos transformar.

O paradoxo da visita é o sentimento da necessidade de encontrar um nacionalismo saudável e inteligente, um verdadeiro e nobre sentimento de Tribo Brasilis, para daí se adquirir a “tração” de uma perspectiva madura e autônoma, auto determinada. Para então se poder encarar de frente uma igualdade e uma parceria com esse povo que a gente inveja e admira, que a gente teme e ao mesmo tempo quer amar. It takes two to samba. Projetar-mo-nos no mundo e reconhecendo-nos sermos reconhecidos, só acontecerá pelo processo interno de reavaliação da nossa História, pelos processos democráticos, e pela erradicação da mentira e falsidade da corrupção, pelo abandonar o entreguismo, o coronelismo e a submissão bovina, a preguiça e os maus modos.... Temos nos Americanos do Norte alguns bons exemplos a seguir nesse sentido. Nosso caminho para nos tornar uma sociedade de iguais, aqui dentro, é o caminho de nossa estatura, “la fora”. A admiração e o interesse humano genuíno que podemos estar despertando no mundo vêm das pequenas transformações e revisões recentes em nosso modo de ser. Ainda há um longuíssimo caminho a frente, e reclamar do passado, de fato, não vai ajudar.

Por isso, em revisão, eu diria que se o Índio que imaginei como o ponto de vista com que iniciei meu outro texto sobre a visita fosse o ser lucido, compassivo e desapegado que gostaria que fosse olharia para toda a parafernália cibernética e militar, para todo o cerimonial, sedução e pompa e veria através disso. Veria com compaixão o dilema do homem que visitando outras terras ordena um ataque à outra nação, e a prisão complexa investida no seu cargo politico. Seus dilemas pessoais e suas alianças. Veria como os povos são iguais no seu desejo de melhorar. Teria empatia pelo medo blindado e defendido, veria a limitação da ignorância deste e daquele, veria a futilidade da encenação e o proposito com que é encenada. Faria uma dança, pedindo uma chuva de bênçãos para cada um no planeta. Ainda assim veria o desenrolar do drama com calma e equanimidade. Impacto zero, não ia acender nenhuma lâmpada, nem precisar dum bunker de concreto. Camiseta e shorts ia aceitar o pastel do botequim cuidando com o mero olhar de cada um na Cinelândia. Reinando num mundo interno que lhe permite ver tudo exatamente como é, invisível como o ar esse Índio se refugia num espaço muito diferente, supera todas as defesas e penetra, oxigenando igualmente cada vida.

terça-feira, março 22, 2011

Respostas ao texto "A Visita de Obama" 3

Numa nota mais consonante recebi o comentário de Viviane Moura

Boa tarde Guga,

Admiro muito a sua maneira de se expressar sobre as realidades do mundo.
Em meio a um tempo cada vez mais escasso e um mundo apressado, poucas pessoas se dedicam à arte de observar e refletir sobre suas percepções. Ano passado recebi um texto seu falando da Marina. Fiquei emocionada ao ver que o meu "sentir" encontrava ecos nos seus sentimentos. Marina não foi para o segundo turno, mas TUDO o que ela representa é tão mais forte e belo. E por falar em Marina, ela é justamente o retrato do que o nosso país tem feito, um trabalho de formiga, mas permanente. 20% da nossa nação (porcentagem do PV nas eleições) equivalem a uma populaçao inteira de muitos países no mundo. Como você diz: "Nós estamos conquistando nosso lugar no mundo à medida que o interpretamos e nele vivemos de nosso modo autêntico, na medida em que trabalhamos para resolver nossos problemas, e em comparação com nossos irmãos gêmeos do novo mundo, na medida em que não causamos mal pela imposição de nossos interesses sobre os outros países do mundo." O Brasil elegeu um operário para o posto mais importante do país. Com todas as controvérsias em torno do personagem Lula, eu não tenho a menor dúvida de que a história do nosso país mudou a partir da visão desse homem. Obama, esse outro personagem extremamente carismático e representante de valores fortes, será também alguém que mudará a visão de negros e brancos, de americanos "texanos" e de tantos seres humanos que insistem em ideias que separam. Como você diz, é bom demais se sentir parte de uma mistura : "Sinto-me hoje bem mais junto e misturado que antes, e isso é bom."

Que venham outros Obamas, outras Marinas, outros Lulas para engrandecerem a história da humanidade!

Abraço carinhoso.
Paz, amor e poesia,
Viviane.

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Olá Viviane,

Obrigado pelo comentário. É sempre polemico falar sobre esses assuntos, sempre existem muitas dimensões e as vezes fica difícil exprimir com clareza, humildade e até coragem a verdade que a gente sente no coração. Como a cada um salta a vista um aspecto diferente as vezes depois pode ser dificil escutar as réplicas, que podem não estar alinhadas com aquilo que a gente quis expressar, ou que mostram a incoerência desde ou daquele ponto de vista que expressamos. Mas é bom, muito bom saber que as vezes a gente consegue ressoar um acorde harmônico e positivo noutras mentes e corações.

Apesar da certa gozação do meu texto, sim que venham muitos Obamas, ele e outros iguais são bem vindos.

Um Grande Abraço

Guga

P.S: Tomei a liberdade de publicar esse seu email e ou outros anteriores, se alguem se sentir incomodado pode me dizer que eu retiro a postagem.

Respostas ao texto "A Visita de Obama" 2

Essa é uma conversa via email com um amigo meu o José Bernardo Filho, ainda em curso...

José Falando em resposta ao texto A Visita de Obama:

Guga,

Nós é que olhamos para eles como Deuses. Se o discurso é aquele contra-americano, veja que o Brasil só foi comprado pelos americanos por que os brasileiros o venderam. No chile aconteceu a mesma coisa s´que lá eles tão bem melhores que a gente.

A questão do esquema de segurança ocorre por causa da decisão do Conselho de segurança da Onu ter liberado o uso da forca contra a Líbia. Consequentemente o esquema em volta do Obama aumenta, normal.

Sorry, mas esse discurso anti imperio nao rola mais. E isso o Lula fez muito bem para os brasileiros, parem de reclamar que o Brasil pode muito, basta investir em educacão e saber explorar de maneira sustentável a Amazônia.

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Eu Falando:

Oi Zé,

Não sei se vc leu todo o texto. Reconheço que é possivel o ler como anti-americano. É dificil falar no assunto sem polarizar e por isso posso não ter tido sucesso, mas o que estou tentando falar é bem mais que anti americanismo Claro essa fase anti coisa do é passado, o que advogo é a maturidade brasileira e tento desvelar o showmanship pra impressionar índio que os americanos sabem fazer muito bem, melhor que qualquer um no mundo. Sim nós os olhamos como Deuses, só com a desconstrução critica e a sacaneando dá pra ver isso, e por outro lado, eles não se incomodam e buscam de todo modo reforçar a simbologia do poderio e da dominação. Não acho que o Brasil foi simplesmente vendido por que os Brasileiros o quiseram vender, houve toda uma politica encoberta de deposição e re-locação de governantes patrocinada na America Latina e no Oriente Médio. Isso não é conspirologia, é apenas fato histórico e consequencia de um politica pragmática de controle e dominação. Acredito hoje que o comunismo e socialismo que identificamos com Lula aqui são extemporâneos e pueris por que foram podados, rebrotando tardios, por que a experiência politica natural de um povo foi atrasada.

O esquema de segurança do Obama é valido e necessário, mas também demonstrativo da ridícula dimensão a que chegou o temor Americano. O serviço secreto quis revistar até ministro de estado, eu acho palhaçada. Sinto, não concordo que basta apenas investir na educação, é importantíssimo, mas fazer um pais com tantas dimensões conflitantes crescer democraticamente e se afirmar num mundo de forças que as se opõe a isso positivamente toma trabalhar muitas outras frentes. Kadafi só se tornou desinteressante por que o povo finalmente conseguiu voz, antes deixavam ele quieto, petróleo rolando com povo quieto tudo bem.

Por isso acho que manter uma atitude de resguardo e tranquilidade diante da visita é a melhor posição. Apesar de afirmar que lidar com Americano não é bolinho, acho que eles são os melhores e mais verdadeiros para se lidar, mas para isso temos que galgar vários degraus de esperteza. A promessa de ser tratado de igual para igual não é uma concessão é uma conquista. Acho que a estatura para lidar com eles tem que vir duma reapreciação de nós mesmos, e em certos casos por uma desmistificação dos símbolos de poder e as bugigangas inuteis que eles trazem. Essa magia não deve funcionar mais, nem pelos afagos no ego futebolistico ou outra coisa parecida. O discurso sedutor foi estudado e premeditado por especialistas em psicologia e brasiologia, pode e deve conter algo de verdade, mas seguro morreu de velho. O que ele vai cantar pro Chile é igualmente sedutor...

O Chile e o Brasil são realidades e histórias muito diferentes, o Brasil tem graves pecados históricos e problemas de constituição da população que o Chile não teve, e apesar disso é uma economia maior, mais criativa e mais plural. Mais difícil também, mas você não vai me ver no virtuoso Chile. Não sou pró Dilma, nem Anti Americano, se você leu todo o texto talvez venha a notar isso, o problema é que nossa ótica privilegiada, brancos imigrantes protegidos e gordinhos, não nos facilita a entender o problema Brasileiro, e é claro que a gente parece se polarizar em antipatias anti isso ou pro aquilo. Eu nunca diria Fora Obama, eu apesar da sacaneação o considero muito bem vindo. Me emocionei pela esperança de ser realmente possivel o Brasil lidar em igualdade com os EUA, e com os gestos de simpatia. Gostei do discurso no Municipal, discurso estudadissimo, mas não aceito que ele venha dizer que o Futuro chegou, são palavras que somadas ao gesto da visita fazem parecer algo mais, que o Futuro chegou por que eles hoje nos aceitarão como parceiros iguais. Uma concessão? Essa igualdade só rola por que o Brasil encontrou, a despeito da ajuda ou apreciação Americana, e provavelmente muito devido a ter sido sobejamente ignorado pelo Bush, um lugar no mundo. Fazendo merda é claro, mas eles não fizeram tantas e piores? Cometemos Irã e Chávez e outras bostas, quantas merdas não são responsabilidade da America em G-8. Lula foi uma merda, e estranhamente foi bom, Dilma me assustou e estranhamente me dá esperança. O caminho certo é uma coisa esquisita.

Eu não estou reclamando que o Brasil pode muito, a verdade é que nos meus 48 anos de idade essa é a primeira vez que começo de fato a crer que o Brasil pode alguma coisa. E não em oposição ao Americano, foda-se isso. Nem em submissão ao modelo moderno para a economia e o mundo e sim na proposição de um modo novo, que ainda não foi concebido. Principalmente que não foi concebido por quem criou o problema nuclear e hoje o quer limitar, por quem responde pela maior emissão de poluentes e não as consegue reduzir, e que se fosse nos vender uma ideia pro mundo seria de algo parecido com o que já tem e que começam a ver que não funciona. A solução não virá das cúpulas, nem dos governos, deve espero, emergir das populações conectadas, e dos cidadãos mundiais. Ai sim vamos poder dizer que Americanos e Brasileiros, e todos os outros nesse planeta são iguais. Fora isso é tudo agenda politica do Leviatã, agenda econômica, Politica do Espetáculo e manutenção do Status Quo entrópico.

Melhor nem pensar em explorar a Amazonia, Amiguinhos Americanos já estão fazendo isso por nós...

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José Falando, em 2 emails completou esses texto com 2 referencias, uma a estudo sobre a exploração da Amazonia e ourtra a artigo falando da queda da economia americana:

Sim, justamente reapreciação de nós mesmos. O que fazer num país onde elite virou uma palavra associada a dinheiro ? Elite é quem está no poder ou quem tem conhecimento. Nossa elite se calou faz tempo...

"...A solução não virá das cúpulas, nem dos governos, deve espero, emergir das populações conectadas, e dos cidadãos mundiais. Ai sim vamos poder dizer que Americanos e Brasileiros, e todos os outros nesse planeta são iguais. Fora isso e tudo agenda politica do Leviatã, agenda econômica, Politica do Espetáculo e manutenção do Status Quo entrópico..."

E os 20% de abstenções + 7% de brancos e nulos nas eleições passadas ? quem esta falando pra esse pessoal ? Ninguém.....

Eles não tão na Amazônia, ainda. Mas, se para lá forem será por causa de nossa secular incapacidade de agregar valor a nossos produtos. Dai minha insistência em educação. Sem educação de qualidade não ha inovação, e sem inovação não há competitividade e vamos continuar a exportar soja e picanha pro resto dos tempos.

Eles tão fodidos, Guga, por isso vieram pra gente.

Agora, o Lula falou que o pré-sal é o futuro da nação e que o $$ seria investido em educação, pesquisa, ciência etc.... Quero ver se o Obama der a grana o governo investir nisso ai mesmo, isso eu quero ver. Como um pais que esta entre os 15 piores do mundo na avaliação do ensino médio pode ser um pais que esta "crescendo" ?

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Eu respondendo aqui:

Zé,

Não tenho resposta para estas questões.

Estou tentando me galgar a elite dos pensantes, pois dos ricos ou dos politicos está dificil, por isso busco do meu modo dialogar com as questões que vão surgindo, buscando perspectivas positivas

Meus sentimentos não são anti-americanos ou anti-europeus. Tentarei se surgirem outras ocasiões, usar de outras formas de me exprimir que não tragam o sentimento de um repúdio antiquado e sim um de afirmação positiva de nossa nacionalidade. Não sei o que o Lula prometeu, ou o que a Dilma pode fazer, ou o que vai resultar dessa reaproximação, ou o que vai acontecer com o dinheiro do Pré-Sal, e assim por diante. Se eu falei de crescimento, não foi o da Economia do qual nada entendo, e sim o de um sentimento nacional, que rogo a Deus não se torne nacionalista, de amor proprio e de auto determinação. Sentimento que acredito estar se traduzindo nessa impresão de reconhecimento e de encontro de um novo lugar no mundo.

Dai que aprecio a parte do discurso da Dilma, em quem não votei, em que ela pleiteia o direito de aprendermos com nossos erros. Leio isso como aprender com nossos proprios erros não apenas na hipotética e improvavel participação no conselho de segurança, mas com os erros que pode cometer (e comete) um Pais em seu curso auto determinado. Erros que se ninguem interferir acabam se tornando sabedoria. O proprio Estados Unidos está aprendendo, e infelizmente pagando, pelos erros cometidos, tudo bem. Obama sinaliza uma grande mudança, ótimo! Não os quero fodidos, sinceramente quero todo um mundo melhor, mais educado e sustentável.

Abraço

Guga

Respostas ao texto "A Visita de Obama" 01

Meu cunhado, de quem eu tenho grande respeito pela opinião, que mora na California e que me recebeu graciosamente lá em sua casa, fez por email a seguinte critica ao meu texto (Marcos espero que voce não se importe com esse post), a minha resposta vai abaixo do texto dele:

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Guga,

Permita-me fazer uma critiqué do seu texto. Sua abertura é a parte que mais me chamou atenção. Sua visão do Obama não parece corresponder a uma pessoa esclarecida de viajada como você. Vi outros protestos e comentários sobre a visita do Obama e fico triste com a falta de conhecimento sobre ele e também os sentimentos anti americanos que existem no brasil agora. É uma pena pois acho que o Obama não merece ser tratado como outros presidentes anteriores que sim eram péssimos. Se ha alguma possibilidade de dialogo and abertura é agora. Obama apoia todos os projetos de energia limpa, saúde para populações carentes, e é um socialista (a dilma também não é), em suma, um das melhores pessoas que surgiu no cenário da politica americana. Como isso pode ser ruim para o brasil? O brasil parece que parou no tempo com sua retórica de ser um povo oprimido pelo maldito império do mal. Chegou a hora de sair desse atraso e ver que não são os outros que nos roubam mas nós mesmos. Não fosse o entriguismo e a falta de patriotismo dos próprios brasileiros de elite não estariamos falando disso agora.

Aprecio o seu relato da visita do Obama, mas suas observações não me contaram os detalhes que julgo importantes. Como foi a visita? O que foi proveitoso para o brasil? Do que se falou, e como foi a reação das pessoas e qual poderia ter sido a troca positiva entre dois paises que tem muito a oferecer um ao outro. Sinto uma enorme resistência a respeito da credibilidade com os U.S. e isso é compreensível pois aqui ninguem é bomzinho e todos sábem. Porém o que sinto é uma atitude neo-comunista que quer associaçoes com governos como o da china, irã etc, governos que não tem a menor intenção de ajudar o brasil. Temo que agora com o governo petista engressamos numa era de hostilidades com o melhor aliado que o brasil pode ter, e as hostilidades com o Obama vem justamente mostrar isso. É uma lástima que no brasil não são capazes de ver as mudanças que ocorrem aqui, e tambem que não somos tão mais um império, e que estes já não mais existem da forma que existiam nos anos 70. O dinheiro esta em toda parte agora, eletronicamente ele circula pelo globo e não tem mais local fixo. Acho que chegou a hora do brasil, quer dizer do povo brasileiro de entender o mundo e não ficar mais nessa retórica de que somos os explorados pelo império e participar com maturidade. A visita de Obama foi uma oportunidade para isso, mas acho que poucos viram dessa forma. O que falaria o Dali Lama sobre o Obama?

PS Vegan é o nome usado para uma dieta vegetariana que não usa nenhum produto animal (leite, queijo, mantega, etc)

Marcos Taquechel
Berkeley, California
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Oi Marcos,

fui mexer num vespeiro não é..?

A crítica é bem vinda, não pretendo ser dono da verdade. Eu entendo o que o Obama significa, e que grande mudança é tê-lo como Presidente Americano. Os sentimentos antiamericanos não são se rejeição e sim de suspeita, e são totalmente válidos. Obama quando vem aqui não é apenas o Obama, é o Presidente de uma nação com uma longa história de dominação no cenário mundial, isso o mundo e não só o Brasil não esquece. E não é a presença de um personagem carismático que resolve isso de pronto. O processo de mudança da mentalidade do Americano médio e da manutenção de suas necessidades de conforto, energia, emprego e consumo (os tais interesses estratégicos) ainda vão ser bem demoradas e conflituosas no cenário interno americano, e por consequência no internacional. Então claro, o caminho da recomposição de alianças tem muito bad blood pra tirar do caminho, e o processo de equalização dos países do mundo calcado na igualdade humana ainda vai demorar. Aqui no Brasil a gente mais esclarecida parece não ter, graças a Deus, grande possibilidade de se iludir com as figuras de proa.

O Obama foi tratado com a maior receptividade, respeito e carinho até, e também com alguns atos de repudio, como é de se esperar. Para mim é muito chocante e antipático ter um porta aviões na Baia de Guanabara, imagino que tenham ancorado um por lá pois só num porta aviões cabem os 4 enormes helicópteros que trasladaram Obama e comitiva dum lado ao outro. Isso vai muito além de toda a função legitima de protegê-lo, é politica do espetáculo, de demonstração de poderio. Sarkozy esteve aqui e o transito nem parou, sei que não dá pra comparar, mas a desproporção é avassaladora (avassalar – fazer de vassalo). Não estou falando a partir de ideologias, estou realmente falando como um índio que vê a caravela chegar na praia, e sente a desproporção assustadora, e no nosso caso sente como essa desproporção nos causou propositalmente anos de atraso. Os governos militares foram senão colocados, claramente apoiados pelos governos americanos, a reação comunista que parece retrograda é apenas resultado duma panela de pressão. Por sorte o Brasil tem muito mais coração e autoconfiança que parece, e está superando com processos internos as dificuldades. Não existe mais realmente a questão de nos sentirmos acanhados, mas isso é uma superação como é a dos Libios. Kadafi só incomoda agora ao enorme senso de justiça do G-8? É muito complexo.

Se a visita foi proveitosa, não sei. Foi simpática, sim, foi. Alguma resposta concreta às nossas reinvindicações mais objetivas – nenhuma! Diminuição das barreiras à importação e um lugar ou ao menos uma reforma no conselho de segurança da ONU aonde possamos participar. A associação com os outros governos do mundo, o Brasil se associa também com a Alemanha, com a França, com a Itália, é tão pragmática quanto tem sido historicamente a associação Americana com diversos governos opressores ou liberais... Essa mesma associação, após anos de sermos sobejamente ignorados pelos estados unidos tem dado, com todo o Karma que vem associado com isso é claro, a possibilidade do Brasil adquirir essa nova estatura no cenário mundial. O Governo Americano também não tem intenção de “ajudar” o Brasil. Acho que isto está estabelecido, não pelo fato de que existe uma intenção malvada de apenas se aproveitar, mas pelo fato de que todo o modelo global, tocado pelo G-8 e comandado pelos EUA (não dá pra se iludir) está meio ferrado... Então acho que as soluções locais são bem mais importantes.

Talvez seja difícil daí perceber como esse projeto de mundo que vem nas asas do Air Force One, a despeito das melhores intenções individuais do Presidente tem enorme espaço para critica e revisão, e que no âmbito global essa critica e revisão é feita exatamente por essa politica muito messy e com os elementos existentes, os players globais e as ideologias... Falar é muito difícil, e nesse âmbito tudo fica tingido de ideologia.

Emociona-me muitíssimo a possibilidade de surgirmos como iguais, e como parceiros dos EUA no cenário mundial, ou apenas pelo reconhecimento verdadeiro das contribuições que demos para o surgimento de toda uma nova era. E você, Marcos, gostaria de ver as analises e compreensões do papel e das contribuições não percebidas do surgimento histórico do Brasil, ao mundo a ao surgimento da era moderna, que estamos tendo no curso Questões Humanas Contemporâneas.

Acho que seria maravilhosa uma associação profunda e um reconhecimento das nossas similaridades que viesse a trazer um sentimento verdadeiro de irmandade. Isso passa, e está passando pela novíssima experiência que é a autodeterminação democrática, e um amadurecimento de nossa autoestima como nação aqui no Brasil, e isso ainda é muito tenro. E isso surge claro, dos elementos que temos aqui, históricos e culturais. O problema é que essa associação simplista com ideologias não demonstra a complexidade que surge de dimensões internas das nacionalidades, mais tipificadas por gestos que por palavras. Então escrevi mais do coração sobre o que me causaram de impacto os símbolos, mais que as palavras.

As palavras do discurso, citando Paulo Coelho, VascoxBotafogo, Orfeu Negro, Meos Ameegos, Jorge Benjor, e que o finalmente o Futuro Chegou (e me parece com isso chegou nas asas do Air Force One) me causam constrangimento. As acho estudadas para afagar exatamente essa parte machucada, para enaltecer um ego nacional Brasileiro que julgo ultrapassado, com a ideia final de fazermos negócios para a Copa e Olimpíadas, e fazer negócios com o petróleo do Pre-Sal... O discurso no Chile segue exatamente o mesmo molde, o Chile (aonde se poderia ler O Brasil) é um exemplo para a democracia mundial etc etc. Politica e negócios... politica e negócios. Em contrapartida a essa simpatia estudada não surge a espontânea, pois num mesmo gesto cerimonial o Serviço Secreto quis revistar ministros de estado. É difícil dançar com elefante, e é muito importante entender a inercia da massa do paquiderme, Obama é a tromba, mas a bunda é enorme e a formiguinha tenta do modo que pode ficar esperta...

Acho que o Dalai veria a impermanência de todo esse conflito e buscaria ver o que interessa a liberação do sofrimento para todos os seres. Ela não vem diretamente desse jogo, pode surgir sim através das aparências. Agora se os seres terão, mesmo num mundo gloriosamente governado e ornado de todo o conforto e segurança, acesso ao Darma e a Liberação das Vidas Sucessivas na Roda, ninguém sabe. Acho que o “mundo dos deuses” também para o Dalai é uma prisão de delusão tão necessitada de compaixão e liberação como o dos Infernos... Ainda assim eu acredito no processo dialético dessa história complicada, e não me interessa comunismo ou capitalismo. Não sei se sempre contribuo nesse sentido, também tenho minhas paixões, ignorância e apegos, mas o meu voto, o que me interessa, é que esse movimento da humanidade evolua e possibilite cada vez mais nas sociedades e para os humanos acesso à lucidez e à liberação do sofrimento.

Abraço

P.S.: Sei o que é Vegan. Eu estava brincando com essa sofisticação da dieta, que foi objeto de noticia no jornal, numa terra aonde tem muita mandioca e ainda assim às vezes falta pra tanta gente. Jesus Cristo em uma passagem do Evangelho passa pelo conflito de ter que se alimentar diferentemente dos preceitos judaicos e disse – “O mal não é o que entra pela boca, mas o que sai da boca do homem”. Acho que quando você visita alguém, melhor comer o que lhe servem, é complicado mas é um gesto simpático e de confiança em muitos níveis. Mas isso não faz de fato nenhuma diferença nesse contexto maior, é só uma observação menor e anedótica.

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E ai o Marcos respondeu, e eu não posso deixar de ouvir e concordar:

É, esse assunto desperta muitas emoções mas de uma forma ou outra temos que chegar a um ponto transparente onde vemos tudo com clareza. Continuo achando que a visão da america como império é arcaica de defazada. A america é sim um lider mundial e tem sido por várias décadas, o líder é sempre visto com um pouco de desprezo e suspeita. O que ocorre agora é a dúvida sobre esta liderança e os países querem tambe ser lideres, de pelo monos seus proprios países. A america não sabe ser outra coisa e dai a idéia de arrogância mas acho isso uma coisa natural do líder. O teatrinho Obama é só pra impressionar mesmo. Aqui existe uma certa dúvida sobre o futuro do líder e existem várias correntes pensantes. Isso são coisas que poucos aí sabem, mas a crise americana é mais profunda e mais abrangente. Quanto a seguraça acho que fez bem pois todos sabem que no brasil o crime esta pouco sob controle, mas é duro ver isso na cara. Acho que esta turné do Obama é pra isso mesmo, deixar as pessoas pensando e discutindo sobre os novos passos, de uma certa forma uma lavagem de cara desde os tempos do Bush. Vamos ver no que vai dar.

domingo, março 20, 2011

A Visita de Obama

Acho que vi um ET!

É essa a impressão mais forte que sinto da visita do Imperador. Fico pensando quanto tempo eles ficaram polindo a espaçonave, nossa dava pra pentear o cabelo da tribo toda naquela enorme piroga voadora...! Ele trouxe a família toda, é isso é bem simpático, e ele é bonitão, a família é toda bonita. Colocam-se quase como Deuses, isso não é muito bom. Tudo é salto alto, coroas e penteados, a carruagem tem duas camadas e deve ter uma atmosfera especial anti-medo que eles precisam pra respirar. A Michelle e as garotas comem um troço especial, um tal de Vegan, coisa lá deles, meio sagrado. O salto mais alto é usar tantas carruagens para andar com o séquito, acho que não conhecem ônibus. E é engraçado chegar de avião tomar vários helicópteros, quatro, entrar nos carros pra ir a um hotel da rede ET, logo ali.

Pense, se apropriar de ruas dias antes da passagem do Augusto é mais uma forma, que senão por clara intenção, ao menos tem o efeito de fazer parecer que seu manto se estende pelo próprio tempo. Ele com isso ocupam, Imperador e Séquito um espaço super-humano, em nossa mente, em nossa vida, na planta de nossas cidades. Salto alto e mis-en-cene, afinal eles são da terra dos Pop-Stars, Deuses que surfam na mídia dos afetos exacerbados... Eles sabem colocar um show no ar. O que eles querem vender, o que querem levar? Acho engraçado que em Hollywood eles são fascinados com Guerras, com ETs, e com Vampiros... Isso poderá dizer alguma coisa?

Gostei da Dilma, achei bom o discurso dela, achei humilde (não submisso bem entendido) e ao mesmo tempo forte. Não achei muito mau o dele. Conselho da ONU, ah esse não rola! Visitem a Cidade de Deus e lhes mostrem Capoeira, mas não sei se eles se acham negros como nós. Eu ia dizer como nossos negros, uma grande gafe, seria? A realidade é que o meu branco é o negro do Obama, e por isso muitas vezes eu mesmo me identifico e me iludo com o peixe que ele vem vender lá do espaço. Eu entendo sua língua, e tenho os mesmos apetites, aprendi muita coisa nos seus filmes. No entanto, viver aqui Brasileiro nessa vida me é escola, e eu consigo ter perspectiva de que essa tentação toda é perigosa se a alma a engole como um todo. Talvez eu, Oxalá, tenha me tornado mais negro que o Obama, e menos branco que um senhor de engenho... Sinto-me hoje bem mais junto e misturado que antes, e isso é bom.

Foram eles, ainda americo-humanos, e não Faraós ETs de hoje que ganharam a cartada da 2ª guerra. Clarissimo antes eles um milhão de vezes que os Nazifascistas, mas por isso esse é um mundo ocupado pela “mentalidade dos ETs”. Uma mentalidade alienada da terra que, por mais verdadeiramente simpático que nos apareça Obama, ele vem nos visitar nesse fim de semana em busca de mais combustível para uma máquina ultrapassada e para um projeto de mundo exclusivo. Eles não resolveram essas incoerências, nem revisaram suas consciências e motivações de modo transformador. Do alto do pódio o Imperador tem que lidar aqui em nossa Brasília com as consequências das ações de seu país no mundo. Ações que foram tomadas desde essa “Vitória da Democracia e da Liberdade”. O Império lida, como em lei do eterno retorno, com as consequências das intervenções ocultas ou abertas de mão pesadíssima que perpetraram na defesa de interesses americanos na nossa esfera.

Nem todo o progresso que trouxeram ao mundo é mau, e não podemos dizer que não colaboramos em grande parte com as opções e rumos da humanidade na era atual. As divisões não são tão contrastadas, nem o Mal e o Bem podem ser traçados maniqueísticamente. Eu diria que a parte questionável é co-optar a vitória da libertação da 2ª guerra e da Guerra Fria e transforma-la em “Davonica” (como em Davos) dominação imperial regida e direcionada pela(o) Capital, e no investimento histórico no acanhar as outras nações. Isso pode ter sido equivocado às vezes, e claramente criminoso em muitas outras, não sei dos fatos pontuais, mas intuo pelos efeitos. Admiro as conquistas Americanas que se confundem com as conquistas da modernidade, muitas são merecidas e vem realmente do valor e da dedicação ao trabalho e a verdade, muitas vem das virtudes do pluralismo da democracia e assim por diante. Conheço o povo como pessoas, com nome e valores e sei que são como nós, gente em busca da felicidade. A Abordagem Integral e a Dinâmica da Espiral, que admiro e que me inspiram profundamente, são criações americanas, e sei que na América do Norte hoje acontece um grande e vital movimento espiritual e de valores voltados para o mundo só possível no ambiente de liberdade de expressão, e também de riqueza material, que criaram para eles. Eles são muito mais bons que maus, imaginem se nós fossemos julgados por nossos governantes...

Claro, falando assim em linguagem simbólica e cifrada a coisa fica dramática, mas não é mesmo dramática? Podemos comprar e vender, aceitar investimento e tecnologia, mas temos que ter grande clareza de visão. O tipo de mundo que eles contemplam os beneficia por isso a visão de mundo e os lugares que eles têm para nós nesse esquema vem pré-programadas em cada gesto. Nada de errado com o comércio e com a troca. Só não devemos no meio disto comprar ou nos vender e submeter a um projeto de mundo em decadência. Mesmo que forçados a usar meios mais transparentes eles buscam um retorno aos tempos áureos, e o retorno do Status Quo. Quem senão os santos cederiam Poder Temporal gratuitamente? Podemos aceitar graciosamente o gesto da visita, a 1ª vez iniciada por um presidente americano antes de sua contraparte Brasileira. Pode existir ai realmente um gesto de significado humano e nobre.

Temos legitimado pela história o direito de toda suspeita e resguardo, e não precisamos nos afobar em aceitar bugigangas e espelhos, seja na forma de usinas nucleares ou qualquer coisa que brilhe no escuro, vejamos os Japoneses. Também não devemos vender nosso petróleo a partir de acordos de cúpula estratosféricos e corruptos, vejam as ditaduras árabes, ou o morde assopra do Chávez. Precisamos entender os Americanos e explica-los a nosso modo, com perspectiva brasileira, maturidade e mesmo com o perdão dos adultos. Temos que traçar nosso projeto de um caminho melhor e mais justo para todos os humanos, Brasileiros inclusive. Nós estamos conquistando nosso lugar no mundo à medida que o interpretamos e nele vivemos de nosso modo autentico, na medida em que trabalhamos para resolver nossos problemas, e em comparação com nossos irmãos gêmeos do novo mundo, na medida em que não causamos mal pela imposição de nossos interesses sobre os outros países do mundo. Temos a felicidade e o mérito de termos servido à modernidade como os que sustentaram seu crescimento. Somos como povo, junto dos outros explorados, os que pagaram suas dividas e os que foram escravizados e oprimidos por seus interesses cooptados por egos nacionais. Acho que estamos noutro momento bem diferente de nossa história.

Obama diz que o futuro chegou, essa é a interpretação deles de nossa ansiedade de nos tornarmos um igual no mundo. Das nossas intenções pueris de sermos o País do Futuro... Por meio dum slogan da ditadura tentam nos envaidecer e explorar nosso sonho ingênuo. Palavras de ordem para a boiada, “eh Booooi do futuro...” Só posso dizer que não aceitaria a noção que ter chegado ao Futuro é um presente do Império, não, é uma dádiva de Deus e conquista dos Escravos, que se libertam de um jugo insalubre. O mundo está mudando mais que nós podemos conceber, e nós não devemos pensar em comprar e nos submeter a um modelo que está implodindo. Podemos e temos condição de ver o mundo, de concebê-lo, de nova forma, e se o fizermos vamos encontrar nosso lugar justo, belo e bom na comunidade da terra. Com segura calma vamos encontrar essa igualdade e respeito que mesmo desarmados e pobres merecemos!

terça-feira, março 15, 2011

Dinamica da Espiral - Imagem



Esta é uma imagem que criei para representar os vários niveis da Espiral Dinamica. Cada faixa representa respectivamente de baixo para cima os niveis:
Arcaico
Tribal
Guerreiro
Tradicinalista
Moderno
Pós-Moderno
Integral
Note que cada nivel transcende e inclui, acrescenta ao mesmo tempo em que se apoia sobre o nivel anterior.

Refundação Integral

Pensando na Refundação - 12.03.2011 – Guga Casari

Ofereço esse passeio e uma viagem, desculpem a ocasional lacuna, algumas informações importantes podem estar mais abaixo no texto. O texto ficaria ainda mais longo se eu fosse desenvolver tudo, por isso conto com ter conseguido escrever mais ou menos bem nas entrelinhas...comentários são bem vindos. Esse texto se inspira fortemente nos trabalhos e aulas do curso Questões Humanas Contemporâneas, ministrado no CDDH em Petrópolis(Centro de Defesa dos Direitos Humanos pelo Professor Luiz Gonzaga de Souza Lima.

Centro – centrado na terra – mundo.cêntrico – cosmo.cêntrico – perspectiva solar.

Perspectiva integral e analise a partir da Dinamica da Espiral

Brasileiro = guerreiro na selva incivil da vida social brasileira, lutando individualisticamente para salvar o pão de sua tribo/familia. Encontra-se longe (como massa critica) da noção civilizatória do estado de direito, da virtude da lei, por que sua experiencia social é a de viver num ambiente opressivo onde a lei lhe rouba e agride. A evolução natural atraves dos estágios da espiral ficou impossibilitada por estes estágios terem sido podados ou enxertados. Principalmente devido à formação social excludente, pela base da sociedade em grande parte ser constituída no inicio da nossa história por sequestrados e assassinados.

Como uma sociedade pode ser formada por assassinados? Ora por que sua ausência forçada (assassinato) foi vista como necessária para a formação social. Então mesmo horrivelmente excluídos eles fazem parte, como espíritos que clamam por dignidade, lembrança, justiça, repouso. E por sequestrados? Ora o que foram os escravos, aos milhões, senão homens e mulheres sequestrados de suas vidas? Que grande desvio, que grande arrancamento não é ser tirado do seio da sua tribo e levado a outras terras, sem nome ou alma, sem destino conhecido ou explicado...

A experiência tradicional de desenvolvimento através dos estágios de crescimento que são demonstrados na dinâmica da espiral (Spiral Dynamics) não se deu aqui. Existe um aspecto Frankenstein na montagem de nossa sociedade. Nossa vivencia de sociedade é um tecido retalhado e ferido, completado de muitas experiências estrangeiras (estranhas, alienadas de nós históricamente, alienantes). Lembranças imigrantes ou apenas aprendidas, ideais comprados e sentidos como se os houvéssemos vivido. Lembranças mais emprestadas mais que realmente vividas na terra. O enxerto dá mais ou menos certo, mas o doente anda sózinho mas não pode correr por assim dizer. Não que a aparencia não seja de uma coisa inteira, o problema é que por algo repuxa, as peças não encaixam tão bem, e a gente olha no espelho e parece que está faltando alguma coisa...

As raízes tribais locais (indígenas), que seriam a inserção natural na terra de uma cultura brasileira, foram devastadas. Outras raízes tribais (negras) foram arrancadas de suas terras e foram replantadas aqui em terra sofrida. Toda uma cultura proto-moderna (conquistadores) se instalou aqui sobre a exploração dessa outra cultura artificial e escravizada, desintegrada da sua constituição tribal original, naquela pirâmide sórdida de exclusão que estudamos. Todo um estágio de experiência social guerreira e tradicional previstas e observadas na dinâmica da espiral simplesmente não se deu aqui. As formas tradicionais impostas através da catequese de controle se impuseram diretamente sobre uma cultura indígena devastada ou negra sequestrada, que ainda não haviam passado por um estágio guerreiro, resultando num efeito civilizatório capenga e no retardamento da vivencia do estágio guerreiro. De Canudos, às Missões, aos Quilombos as insurgências Guerreiras foram sumariamente reprimidas. Hoje a resposta é o surgimento duma mentalidade guerreira e individualista do trafico e da violência, um movimento aparentemente retrogrado que na verdade é um impulso evolutivo de individualidade e afirmação (tribal > guerreiro) reprimido a centenas de anos.

Por isso O brasileiro médio parece ainda precisar ser seduzido, no melhor dos sentidos, para vir participar de uma sociedade centrada em bases tradicionais. Apesar de este ser um cenário “pre-moderno”, uma sociedade baseada em valores tradicionais é um lugar de algumas virtudes aonde idealmente cada um sabe o seu lugar, debaixo da visão benevolente de um Deus que organiza o Universo e sob a proteção de um estado (não necessariamente paternalista). Creio que o Brasileiro ainda precisa se sentir seguro e resguardado, valorizado e tambem cobrado (daí percebido), dentro de um esquema maior.

Orientar esse impulso guerreiro vital autêntico de forma produtiva e não destrutiva é um desafio. Por que a experiência de ser parte constituinte de uma sociedade ainda não aconteceu realmente para a grande maioria dos Brasileiros que ainda buscam essa afirmação e individualidade. Passar rapidamente em números substantivos e de modo participativo (não imposto – seduzido pela virtude) desse estágio guerreiro para um estágio regrado pela lei (de guerreiro>tradicional) aonde a grande maioria possa passar a viver num ambiente civilizado, ainda que pré-moderno, é uma necessidade para estarmos à altura dos desafios do século 21. Eu diria que esse seria um processo terapêutico, mais do que um processo de longo prazo, visto que de fato todos hoje vivemos numa era e com recursos e consciência moderna e pós-moderna. É mais uma questão de reconstituição dos “tecidos” das redes e das conexões, é uma questão de reestabelecermos uma estrutura natural de convivência, como um reboot no sistema e um reencontro dum software social orgânico e benigno.

Sonhamos, Brasileiros ainda meio nacionalistas, em nos tornar grandes no mundo, queremos que alguém lá fora nos reconheça como nação. Acredito que esse tormento de querer ser reconhecido começa a passar, sinto que vamos amadurecendo e encontrando um jeito calmo de apenas ser. Oxalá encontremos.

Para amadurecer precisamos olhar nossa história de frente. Vemos ao olhar a pirâmide da nossa formação social excludente, como um tantinho de gente que mandava estava em cima dum tantão de gente que nem contava como gente, que contava como força sem alma, apenas... A gente começa a entender essa distorção, insalubre e monstruosa para nosso olhar atual. E quando pensa nesses termos, analisando a nossa formação original não de sociedade, mas de estado fabril moderno voltado para fora de si, o vemos sequestrador e excludente. Aparece ao olhar, figurativamente, uma moenda de gente, comerciante de doces prazeres, e o choque nos pede que contemplemos nosso Karma, e nosso lugar nessa história.

Karma é um conceito muito importante de ser apreendido, é uma forma de entender o que acontece como resultado de nossas ações. Devemos despir a palavra de negatividades, do sentido de punição, expiação e culpa que agregamos a ela aqui no ocidente. A palavra Carma é traduzível de modo simples como Ação. Devemos entender que o conceito de Carma surge da compreensão que nós nos movemos e agimos num Universo vivo, bom e responsivo, que nesse Universo ao longo do tempo depositamos o resultado de nossas ações seja na forma de predios, de nações, de relações, de habitos, de respostas programadas... Carma, Ação continuada por muito tempo que deixa marcas, trilhas, formas construidas de acordo com as razões que nos levaram a realizar essa ação. Essas formas se tornam uma realidade envolvente, tão mais concreta quanto nela tenhamos investido esta Ação.

Agindo de acordo com a necessidade organica da sustentação da vida do cosmos, ou em oposição obstinada e ignorante ao impulso amoroso dessa mesma vida, nos colocamos em situações mais, ou menos, auspiciosas. No fim, é minha crença pessoal, tudo acaba chegando ao mesmo mar da bondade compassiva do criador, ou “des.antropo.morfizando”, todo conflito chega numa forma de equilíbrio positivo, na realização inevitável de crescimento daquele que o viveu. Creio ser possível perceber isso quando se olha numa escala mais ampla e desapegada. Mas, despindo-o de toda a mística, e apenas necessitando o entendimento que somos conectados a toda a vida, o conceito de Carma não é um de expiação e punição, apenas diz respeito ao resultado, muitas vezes imediato, outras vezes acumulado, de nossas ações. O conceito Carma indica que é melhor estar conectado a vida e ao cosmos de modo positivo que de modo negativo.

Voltando então ao significado de Carma nesse contexto: Uma malha de ações construiu essa nação, impregnou as arquiteturas e paredes, as leis, impregnou nossas relações de significados. Essas como todas outras, foram e são açoes que deixaram a semente para que por falta de lucidez nasçam inadvertidamente novas ações de mesma “vibração”, “energia”, “ressonância”, de mesma semelhança, de mesmo DNA. Nesse aspecto a nossa Malha Brasilis é uma malha com alguns defeitos que precisamos curar, com limitações que não são mais necessárias, com dores para as quais existem remédios e cura. Imagino figurativmente uma regeneração, por meio de um procedimento re.genético que encontre em nossas proprias “células tronco” os melhores genes (esperanças, desejos, ambições, capacidades) genes que nos projetem num futuro positvo, abraçados com o corpo maior da humanidade.

Estudamos no curso Questões Humanas Contemporâneas, ministrado pelo Prof. Luís Gonzaga além da formação social excludente, a importância do novo mundo e do Brasil na fundação da era moderna. Sem os recursos (e os sacrifícios) das Américas, e no caso de nosso estudo especialmente do Brasil, o surgimento do mundo moderno, do homem e da mente moderna, e da era global que hoje vivemos não teriam sido possiveis. Foram os espaços de liberdade abertos à exploração de novos modos de ser; os recursos materiais (ouro prata); os recursos de espaço fisico indefensável pelas populações ingênuas e desarmadas de aço e, portanto sem condições de se contrapor à obstinação dos conquistadores; os recursos energético-alimentares (açúcar, batata, tomate, café, milho...), as novas formas de comercio e intercambio globais surgidas da exploração das novas fronteiras, que possibilitaram a energia e o campo aberto para o surgimento e maturação do moderno em sua forma desenvolvida. Como vimos outras vezes em sociedades tradicionais o pensamento regido pela razão buscou surgir, sendo a Grécia o exemplo mais conhecido, mas tambem na China e na India. O pensamento regido pela razão entretanto foi incapaz de se tornar dominante, ficando adormecido até a era dos descobrimentos apenas como um potencial no bojo da sociedade e na mente do Homem.

Hoje olhamos a modernidade já a vemos como coisa pronta, e criticamos suas falhas, a principal talvez seja a exploração desacralizada do Homem e do Meio Ambiente. Podemos não estar conscientes disto mas este já é por definição um olhar pós-moderno. Um olhar que se afasta da mentalidade moderna dominante e percebe suas falhas. O pós-moderno entende toda a realidade como construída. Diferentemente do moderno que vê a realidade como sendo materialmente estática, o pós-moderno entende que o olhar constroi, que o mundo surge do interior do humano e não apenas como um dado externo, ele é um resultado da experiencia que a consciencia realiza sobre ele. Como demonstrado pela fisica quantica e pela demosntração de que tanto o observador como o seu experimento, que é o modo como questiona e prova a “realidade”, são formadores da própria experiência do que é real e daquilo que é percebido. Por isso o pós-moderno busca valorizar as diversas interpretações do significado do Cosmos surgidas em todas as culturas por entendê-las como igualmente válidas criações do Homem. Assim como busca, em oposição à aridez religiosa do periodo moderno, re-sacralizar as relações. Faz isso ainda de modo ineficiente, pois o entendimento que toda a realidade é construida, ao nivel pós moderno, traz todas as verdades para um mesmo patamar de valor, nada sendo realmente mais valioso, ou apropriado que qualquer outra coisa.

Daí que, no ponto em que muitos de nós nos encontramos hoje, pode surgir certa resistência a qualquer coisa entendida como um julgamento de valor. O problema é que o que o que surge após a relativização e desconstrução ultra critica do pós-moderno tende a se tornar uma sopa homogenea onde tudo é igual a tudo mais. E no meio disto, um curto circuito sem diferença de potencial, Deus (que morreu na modernidade) ou o poder amoroso da vida acaba com dificuldade de agir. Claro que isso só acontece na nossa ignorância, pois esse poder age independente de nossa opinião a seu respeito – Graças a Deus! Ainda assim, beber dessa sopa morna de valores nos torna instrumentos menos capazes de ressoar sua música, nenhuma corda se retesa, nada realmente vibra...

O proximo passo no caminho evolutivo da humanidade e das sociedades não é um retrocesso ao modo antigo do bom selvagem, e sim um perceber-se não no meio de um caos de visões de mundo conflitantes, ou num sopão onde tudo é igual a tudo o mais, e sim no meio de uma complexa ecologia de valores que começa a se revelar. Como brumas que subindo quando vem o sol não turvam mais a paisagem, a revelação da existencia de uma estrutura interna no homem e nas suas associações com o outro (e com o mundo, a natureza, a sociedade) passivel de ser compreendida, e que é uma das principais conquistas do pensamento Integral, permite uma nitidez sem precedentes no entendimento de nossa história, e daquilo que podemos conceber como nosso futuro e destino. A fase moderna e seus conflitos não são o patamar final, ou definitivo, e um próximo passo do crescimento e evolução do Homem e da Sociedade se descortina, essa etapa se chama Fase ou Etapa Integral. E proeminente na visão de mundo dessa fase é exatamente uma grande clareza no entendimento do crescimento evolutivo do Homem e da Sociedade em fases com transições claramente marcadas. Nominalmente essas fases já citadas de passagem acima são em ordem de complexidade (não de importância – todas são igualmente fundamentais) Arcaico > Tribal > Guerreiro > Tradicional > Moderno > Pós-Moderno > Integral > e por ai afora. Isso é um amplo estudo que eu fervorosamente defendo. Essas mesmas fases se observam no amadurecimento do ser humano de bebe a adulto, e são observadas com nomes diferentes em outras abordagens que estudam o desenvolvimento humano. Essas fases surgem, no caso das sociedades como respostas (Visões de Mundo) que surgem diante de Situações de Vida. E hoje a complexidade da situação de vida de quem está na “crista da onda” é uma de desconstrução pós-moderna da visão e valores modernos que exige uma nova síntese e direcionamento a partir de valores integrais e Mundo-Eco-Abrangentes.

Quando penso em Refundação para mim a coisa para mim vira esse Tsunami e passa muito fundo, incluindo um resgate dos assassinados, dos sequestrados e escravizados, daqueles que foram alienados de suas forças de vida e impedidos de crescer em humanidade de forma organica e natural. Passa por honra-los como meus próprios antepassados. Nesse caldeirão entrou muita gente, e tanto quem foi tragado e cozido, como aquele que disso se alimentou vive direta ou indiretamente em nós, hoje, nas ruas asfaltadas e cibernéticas de 2011. Esses foram de modo bastante verdadeiro nossas Mães, nossos Mártires Silenciosos e nosso Alimento. Desse ventre nós surgimos como Brasil, e o mundo surgiu como Moderno e evoluiu para além das limitações do tradicionalismo secular.

Quando penso em Refundação Brasileira penso na espiral de experiencias humanas que tem que ser reestabelecida, no vortice de evolução benigna que tem que ser restaurado para que em nos, Humanos nascidos Brasileiros, a humanidade encontre seus novos espaços, seus novos horizontes, e que de vez fiquem para traz a ansiedade e o medo, a opressão e a exploração do Homem e da Natureza pelo Homem sem alma.

Quando eu penso no Brasileiro eu penso, o que o move? Não é a disciplina militar, o Brasileiro não se conforma nem se robotiza em liturgias sociais complicadas; Não é a praticidade e a agressividade secas dos povos invernais, o Brasileiro é materialista por acaso, acho que por que ainda não concebeu outra forma de ser que não as formas já arcaicas da modernidade, aquele modelito cansado de “O Homem sobre todas as Coisas (até do Homem)”. Acho, vou arriscar esse palpite, que o que move o Brasileiro é Paixão, e eu diria que não é apenas uma paixão da fome, ou da sanha dum prazer, é uma paixão ideal, estética, palpável, pela vida, e quem não sabe pela justiça e pelo espirito. Uma paixão que se tornaria Solar, se permitíssemos nossos corações arejados alçarem essas alturas. E me empolga especialmente pensar numa paixão ensolarada, aberta e destemida, pensar numa civilização pós-egípcia, com pirâmides de sapé venerando os dias e o sol, e o milagre de vivermos e compartilharmos entre nós o que é de mais vital no humano. Algo que saísse cantado de nossas vozes como verdade, e soasse assim misterioso e sedutor como bossa nova para os perdidos desse mundo, algo que acolhesse e abraçasse apenas por dizer um simples “E ai, tudo bem?”. Um segredo escondido e maroto de quem sabe o viver. Agrada-me pensar em uma civilização solar, ao mesmo tempo sal da terra, simples como cafezinho, gostosa como aipim, despreocupada como o verão, comprometida como a paixão... Fogo ardente, espontâneo. Nada das formalidades cansadas, das trilhas desgastadas, da mente obtusa e contábil. Clareza, propósito. A segurança dum abraço, dum aperto de mão caloroso. Verdade estampada num estalo no ar. Será que esse Brasil caloroso, seria um braseiro derretendo o que era sólido, será que dessa forja, hoje morna, se oxigenada e aquecida sairia o aço e o silício dum novo tempo? Por que na realidade do Brasil, como se fosse algo destacado do mundo, não vale a pena se ufanar, mas desse setor de experiência da humanidade nessa esfera bem pode surgir um componente importante na trajetória evolutiva da humanidade. Afinal as naus que trouxeram nossos corpos, trouxeram nossas almas senhores ou escravos, as armas que mataram nossos corpos, doeram em nossas almas senhores ou indígenas, as riquezas que produzimos nessa terra, e que dela arrancamos surgiram em nossos corações e neles persistem.

São os valores que damos as coisas que as tornam valiosas, é o valor que damos a nossa história e o que com ela aprendemos que a torna gloriosa. É o sentido que damos a nossas ações no mundo que as tornam poderosas. Na luz apaixonada iluminemos o mundo com sentido, proposito e justiça, deitemos nossos olhos na beleza de cada aspecto da vida e não vejamos nada de errado debaixo do céu. Que nossa luz atravesse um mundo transparente e leve, e nós mesmos não nos apeguemos às coisas que vem e vão na maré dos dias. O que plantamos, que frutifique. O que digamos, que nos aproxime, e o que tenhamos que a todos enriqueça. Façamos do pouco o muito e estejamos prontos para qualquer juízo, a vida é curta e imprevisível como as ondas no Japão. Quanto tempo a orbita em torno do Sol nos será benigna? Não vivemos amanhã ou ontem, vivemos com os olhos nos olhos do hoje, abertos, acordados, num suingue apaixonado dançando com a vida, dançando na Refundação!

O Brasileiro, Abordagem Integral, Dinamica da Espiral

O Brasileiro - individuo imaginário que surge na minha mente, é um agregado hipotético do movimento de ocupação dessa geografia. É a resultante da pressão antrópica histórica e geográfica na forma dum individuo “médio” idealizado. Esse Brasileiro não é fruto dessa terra que tomou e tem muitos elementos para se sentir estrangeiro mesmo em casa. Creio que essa é mais uma das premonições do que é ser Brasileiro, o “Povo do Futuro”, por que acredito que desse mesmo modo a Humanidade vai acabar se percebendo como algo que busca e que precisa se diferenciar do solo mãe que a gerou.

No nascedouro do Brasil na Senzala não tínhamos a terra, nem mesmo o futuro, na Aldeia deixamos de existir, e na Casa Grande éramos estrangeiros fazendo fortuna numa terra exótica... Temos uma desconexão da terra como ideia de solo ancestral, pois em nosso mito histórico nós podemos explicar donde viemos – nas caravelas de outras terras. Não sei se o que vou dizer pode soar absurdo, pois de modo algum quero diminuir a experiência indígena, mas apesar de todas as influencias que claro existem em nossa cultura essas são periféricas, não chegaram a afetar o aço do cerne. A cultura indígena foi massacrada e muito mais que a negra, rejeitada e suprimida, por isso diria que ela teria que se ser reincorporada no caráter nacional, se isto é possível, para chegar a ser uma influencia forte. Acho isso difícil, as marcas desse trajeto dominador massacrante sempre serão parte e trauma que dificulta essa possibilidade. Por isso transmutar-nos em herdeiros legítimos dos indígenas me parece impossível de modo coletivo. Acho que nesse caso só resta o respeito e a honradez pelos aborígenes originais e uma busca pela reparação possível.

Quanto ao que é ser Brasileiro, as histórias do branco superaram e engoliram todas, e de modo irreversível e são a nossa versão oficial e consciente do que somos e de como nos sentimos. Não temos o sentimento de que como indígenas sempre existimos aqui, plantados como milho ou mandioca no chão. Não temos esses mitos ou essa história como povo, nem realmente as fizemos nossas. E como disse me parece que nossas relações ao longo dos séculos não permitem realmente incorporar um sentimento indígena/aborígene nacional, como talvez um europeu ou um asiático consiga traçar com o solo pátrio. Ou seja me parece que não nos é acessível uma raiz mais profunda e um laço mais subconsciente com a terra e com origens locais autenticas. Podemos é claro traçar e sentir esses laços e escala mais ampla, com a própria terra, mas dificilmente com esse pedaço de terra especificamente. Somos desterrados contemos a história como Brancos, Negros ou Indios. Nosso mito e história já é a explicação moderna, objetiva, e recente de nosso trajeto. O subjetivo que surge, escondido no mito moderno super objetivo, é um não ser da Terra, mesmo que sobre ela pisemos, construamos e plantemos. Esse modo de ver para mim explica, e permite traçar a hipótese, de por que a nação do Brasileiro é uma de conexões HUMANAS. Nós nos apoiamos, talvez de forma mais substantiva que outros povos, na conexão com o outro. No papo da fila do banco ou no mutirão pra construir a casa. Acredito que apreciarmos e até desenvolvermos essa característica de paixão, afetividade, conexão humana automática é uma virtude e mesmo uma qualidade especial de sobrevivência nesse planeta em colapso ambiental, e que essa pode ser a qualidade humana que falta brotar de modo mais acabado em nosso Planeta. A exploração da Intersubjetividade, dos mundos que criamos em nossa relação com o outro é a nova etapa que aparece para a Humanidade, e nessa fronteira que existimos como civilização, e aonde o Humano surge como Humano.

Nossa mãe começa a nos “expulsar” de casa. Parecem ser avisos, mas não creio ser essa uma questão moral. A crise ambiental pode não ser reversível, por que não é só atmosférica é geológica, e por isso pode ser muito maior que nós, maior que qualquer paliativo que possamos buscar no momento. Não conseguimos conceber a extensão e abrangência desse ciclo de mudanças, estamos navegando sem instrumentos. O Japão andou 2 metros e meio...! Posso imaginar que essa sacudida tectônica agora vai jogar pressão mais adiante, a coisa está se mexendo e a gente sente no mais intimo de nosso instinto, quase nos ossos. E só temos os ossos bussola.

Sei que parece cruel, e meio ficção cientifica, mas para mim tem um sentido e uma Urgência, de Profecia, de Evolução e de Movimento da Vida. Mas e se a terra for semente, que agora vai se secando, já que já deu fruto? O quanto tempo ela se aguenta para que amadureçamos e nos tornemos férteis, autopoiéticos e geradores autônomos de nosso meio?* Acreditando que a consciência humana não é uma doença e sim é o pináculo de realização da vida da terra, um investimento de todas as esferas que evoluíram aqui e um presente de Gaia para o Universo, creio que a Humanidade está destinada a carregar em seu bojo a memória de sua terra mãe e durar mais que planetas. Nossa fragilidade aparente é nossa força, sempre foi, e o teste é agora. Nossa inteligência e consciência, temos que crer, brotam das melhores aspirações de nossa mãe generosa, e se ela nos sacode não é por que nos odeia ou por que fomos tão horríveis assim que mereçamos o apagamento. Achamos, adolescentes, que ela nos pune e nos odeia, a verdade é que Ela só quer que acordemos para o fato de que ela não vai estar aqui para sempre. Claro que o certo é poluir menos, e buscar fontes alternativas de energia, mas nossos equívocos civilizatórios são uma parte pequena da crise que vivemos. O próprio Sol passa por um período incomum e joga mais energia que antes na heliosfera, afetando diretamente nosso clima e, dizem especialistas impactando energeticamente a nossa magnetosfera com consequências diretas na sismologia do planeta.

O que fazer? A Terra vai acabar amanhã? Pode ser, quem sabe de verdade? Pouco provável, mas é bom acatar os avisos... A Terra vai se esgotar um dia? Muito provável, o próprio Sol deve esfriar. Somos a doença do planeta e seria melhor não estarmos aqui? Não acredito, creio que Gaia sentiria nossa falta, e nosso desaparecimento não honraria seu esforço e dedicação.

Acho que a Humanidade “Futura” cada vez mais vai se destacar da terra, e na medida do possível reduzir seu impacto no planeta. Quem sabe um dia nós deixaremos nossa mãe descansar e se felicitar, orgulhosa daquilo que nos tornamos, e lhe contaremos histórias de nossas viagens e como vão os netos em outras galáxias?

O ponto é que grandes horizontes, Cósmicos, mesmo que não exatamente estes ficcionais, são profeticamente (por -Fé-ticamente) possíveis para o Humano. Sentimos isso nos espaços amplos da Alma. E não é uma questão de “Destino” como se houvesse um plano escrito, é a força criativa do próprio impulso de vida que nos impele a buscar mais longe, a realizar mais, a transcender e superar.

Nesse momento, o transcender as dificuldades com que nos deparamos se dá por reduzir o impacto no ambiente, e por distribuir as riquezas da civilização por todos, por reconhecer toda a vida como sagrada, e eu diria por não jogar fora o virtuoso da história e da civilização moderna junto com o problemático. Nossas Urbes tem cada vez mais que se tornar “estações espaciais” auto suficientes, altamente eficientes e limpas e com plantas compactas, de impacto zero e a prova das oscilações do planeta. É possível que nossas populações tenham que decrescer para aumentar a qualidade de vida da humanidade como um todo... Não é uma questão de decidir quem não vai viver, e sim de simplesmente reduzir paulatinamente os números como um todo e permitir acesso total a todas as benesses da civilização a todos de modo amplo e irrestrito...

Uma das questões, e problemas, que surgem da convivência conflitante entre as varias visões de mundo propostas pela Dinâmica da Espiral é que certas tecnologias, métodos ou entendimentos não surgem senão a partir de um estágio especifico. Um exemplo usado é o de que a bomba atômica só foi possível a partir do estágio moderno, e seria uma tecnologia impossível de ser criada em estágios anteriores não científicos. Uma vez surgida no espaço do “Kosmos” (termo usado por Ken Wilber para toda a esfera Objetiva-Externa junto com toda a esfera Subjetiva-Interna) essa tecnologia se torna disponível para todos os outros níveis. Então hoje nos preocupamos de modo real com a questão de Bombas Atômicas Modernas na mão de Aiatolás Tribais, um pepinaço! Também surgem novos aspectos filosóficos e argumentativos, como na desconstrução do Moderno vinda da critica Pós-Moderna, que em sua esfera é apropriada, mas que na relativização de atitudes guerreiras e individualistas pré-modernas se torna um problema, como na defesa dos direitos humanos de traficantes mafiosos e renitentes por exemplo. Ou na justificativa da construção e ocupação des-urbana das favelas que hoje após a catástrofe serrana mostra o perigo de vida que é esse tipo de aglomeração sem planejamento...

O Brasileiro é um Guerreiro, gostaria que ele passasse a ser, a se sentir e a agir como um cidadão. Essa consciência Guerreira e batalhadora consegue se defender até certo ponto das dificuldades da vida, uma tal “sabedoria dos pobres” que eu ouvi falar. Mas é inábil para lidar com os novos desafios da civilização e tem acesso a recursos que não são gerados em seu nível, que geram por si problemas de outro nível. Civilizações Guerreiras ancestrais nunca chegaram aos níveis de população atuais quando essas eram as dominantes. Suas batalhas e dificuldades ambientais impediam o crescimento populacional. A solução evidentemente não é, acabar com os Guerreiros, ate por que esse é apenas um aspecto de comportamento existente em cada um de nós, e que em cada individuo se apresenta em relação a esferas diversas da vida em graus diversos de intensidade e combinado complexamente com a existência e preponderância de outros níveis. É, é complicado mas não é tão difícil de entender quanto parece. Você pode ser Guerreiro no trabalho, tribal na família, tradicional na religião e moderno na educação...

Não tem um corte nítido, o ser humano em seu interior é uma coisa múltipla, mas é possível se entender esse interior. É possível se dialogar com essas camadas, do ser. Entendendo que elas não são classificações de indivíduos, e sim de pulsões internas, ou estruturas existentes em todos nós de forma mais ou menos dominante, de forma mais ou menos conflitante ou integrada. São estruturas que surgem de forma evolutiva, como nosso esqueleto surge das células que surgem dos átomos, não consideraríamos abrir mão dos átomos, ou oprimi-los por estes serem “inferiores, não é verdade? Assim também não abrimos mão das estruturas mais subconscientes, formativas e vitalmente estruturais.

A ideia geral da Dinâmica da Espiral é permitir, oferecer a todos, ao menos a possibilidade de alçar a outros níveis de entendimento e de abrangência em suas visões de mundo; além de buscar a redução do conflito para a convivência saudável e mutuamente honrada destas várias visões (experiências) de mundo. A Abordagem Integral utilizando a Dinâmica da Espiral e concebendo que o movimento evolutivo é um movimento natural e espontâneo do Universo tanto em seus aspectos Externos/Objetivos, Internos/Subjetivos e Relacionais/Intersubjetivos, se oferece como um novo patamar, além do Pós-Moderno aonde finalmente, como se diz –“A Evolução se tornou consciente de Si-Mesma”.

Isso quer dizer que ao contemplar a possibilidade de uma era Integral para as consciências, a Abordagem Integral se oferece como a possibilidade de ser fonte de harmonização entre as varias áreas de atrito que aparecem na briga por dominância das camadas anteriores. Isso por que é essa a primeira vez que essas mesmas camadas se tornam evidentes, e só se tornam evidentes a partir da lente da Consciência Integral. Pode surgir a pergunta se essa não é mais uma ideologia que busca a dominância, acho que não, visto que o objetivo desta visão de mundo é Integrar e Honrar a Beleza, a Justeza e a Verdade de cada uma destas camadas, alem de ser essa uma visão que preve a trancendencia de si mesma. Por isso acho que a Abordagem Integral pode oferecer um recurso único para alçar a Humanidade a uma nova etapa do processo evolutivo e oferecer soluções concretas para os problemas atuais.

* da Wikipedia:
Autopoiese ou autopoiesis (do grego auto "próprio", poiesis "criação") é um termo cunhado na década de 70 pelos biólogos e filósofos chilenos Francisco Varela e Humberto Maturana para designar a capacidade dos seres vivos de produzirem a si próprios. Segundo esta teoria, um ser vivo é um sistema autopoiético, caracterizado como uma rede fechada de produções moleculares (processos), onde as moléculas produzidas geram com suas interações a mesma rede de moléculas que as produziu. A conservação da autopoiese e da adaptação de um ser vivo ao seu meio são condições sistêmicas para a vida. Por tanto um sistema vivo, como sistema autônomo está constantemente se autoproduzindo, autorregulando, e sempre mantendo interações com o meio, onde este apenas desencadeia no ser vivo mudanças determinadas em sua própria estrutura, e não por um agente externo.