domingo, julho 08, 2012

A Questão do Índio...


A Questão do Índio...   

Na realidade o que entendo disto? Só que não ser especialista não me impede de opinar, ou de querer dizer o que para mim o que isso significa. Espero deixar claros os limites de meu entendimento, o que não significa que não tenha plena confiança na honestidade, ou sinceridade daquilo que estou tentando dizer e pensar por intermédio desses símbolos, significados, significantes.

A indagação começou na mesa de almoço, alguma tia velha tinha falado que era contra os índios, demos risada, claro, do modo simplório de colocar o assunto, da impossibilidade de se ser “contra índio” de qualquer modo que se quisesse ser contra...

Entretanto me chamou a atenção de como de um modo ou de outro, no fundo, somos “contra índio”. Mesmo sem querer ou nos dar conta disso. O assunto prosseguiu com minha irmã e seu genro tentando colocar a velha questão de que os índios são tutelados e que o correto seria que eles fossem cidadãos, como todos os brasileiros. Afinal seria bom também ser protegido e resguardado assim como eles. Afinal nós como descendentes de imigrantes não tínhamos toda essa proteção dada aos índios, afinal os índios que querem apito e computador e remédios como nós não podem ser deixados de fora. E por aí vai.

Confesso que já fui partidário de opinião na mesma linha, achando que estariam melhores os índios se fossem assim incorporados na sociedade brasileira. Com direitos iguais a cidadãos plenos, com reconhecimento de sua maturidade e autonomia individuais, com responsabilidades. Não seria mais fácil se preservar sua cultura, sua “indigineidade”, seus conhecimentos... Não lhes desonraria ser tratados como crianças, e guardados em reservas?

A ideia não tinha mais elaboração em mim que isso, nem tinha eu compreensão de outras perspectivas, perspectivas que por inferência imagino que informem as politicas de reservacionismo, e de tutelagem. Não as vejo mais tão negativamente, e tento ao meu modo conceber suas razões centrais.

A conversa prosseguiu e enquanto mais se argumentava mais me dei conta da extensão e complexidade, mais me dei conta da minha ignorância e de quanto no fundo gostaria(mos) que alguém resolvesse o assunto. Por outro lado mais vejo como é algo assim insolúvel, uma questão estrutural profunda, muito mais ampla que a mera preservação desta ou daquela frágil e fugaz cultura, muito central para nossa própria preservação existencial na 3ª esfera depois do sol... Contra Índio, Contra Terra, Contra....

A busca de soluções é própria de nossa cultura, assim como as neuroses. O paraíso distante, estanque e futuro, a paz das coisas resolvidas e explicadas, nos mistificam e nos enganam a cada virada, a cada esquina aonde o mundo se descortina nascente, morrente e transitório.

Imagino que:

Peguei o índio e lhe dei um RG, carimbei seu nada consta, e o tabelião lhe deu um registro duma terrinha. O relógio marcou todos esses momentos e a sua história foi lavrada num papel, sua foto foi tirada de vários ângulos, sua existência comprovada (e contestada) por diversos meios. Um emprego, uma demissão, apito pra entrar, não mais o de fazer música, espelho pra ver se ainda era o mesmo, ou se já estava velho demais pra ser alguém útil (produtivo). Gravei sua história num gravador, aquelas que eram contadas na fogueira, ou em alguma beira de rio, estão todas em fitas cassete (meio mofadas) arquivadas em alguma prateleira do arquivo nacional, junto dumas máscaras de palha esquisitas. A cultura deles foi preservada, assim eles não precisam mais ser índios, podem ser cidadãos assim como nós... Podemos acabar com essa coisa e prosseguir com a História. E o índio e seus colegas nessa anedota são incorporados como tripulação duma nau que nem sabe mais aonde vai, capitaneada por (G) 7 homens loucos parece querer se precipitar a todo vapor borda do mundo afora, num vazio interminável e escuro.

O mundo continua chato, só perdemos visão dos seus limites, o mundo para nós continua pequeno e frágil, pois separados dele somos pequenos e frágeis nesse cosmos enorme. Seria bom entender o que é ser índio, como ser índio, e preservar o mundo inteiro como reserva.

Alguns herdeiros da história, por exemplo, nós aqui lendo e escrevendo e fazendo nosso sentido moderno e pós-moderno disso tudo, podemos crer que esse assunto não é nosso. Que a questão pode ser bem resolvida deste ou daquele modo, para mim é um pouco maior. Só que sinto agora que vejo mais facetas desse assunto uma grande dificuldade de trata-las de modo apenas linear, dicotômico, ideológico. Não é um problema que precise solução, não é nem mesmo uma questão que precise de resposta, é algo mais fundo e mais central e mais fundamental para a continuidade humana nesse planeta.

Minha irmã, por exemplo, (e a cito apenas como personagem genérico), entende que não tem uma divida histórica com a invasão da América, e ela não disse, mas pode se elaborar mais ainda e dizer que não há daí (para semelhante individuo genérico) divida histórica com a escravidão e etc. Ora de fato, somos aqui em minha família, principalmente descendentes de imigrantes, chegamos depois do circo armado, por assim dizer, e como os índios ou como os negros, podemos crer (mesmo que menos justificados) que também fomos explorados e enganados. Ou poderíamos imaginar que somos isentos de relação ou responsabilidade por termos chegado noutro tempo histórico, pois sem saber se houve ou não direta escolha das condições em que nascemos temos que crer que não houve. Só que existe ai um sério engano, ainda que a ideia de uma divida histórica não se aplique, ou de um karma coletivo, ou qualquer coisa do gênero. A cultura da qual somos herdeiros, imigrantes, não é em nada dissemelhante da cultura que se encontrou aqui. É a mesma, nossas famílias contavam histórias, escreviam e liam, entendiam e achavam lógica e coisa da vida a culpa, o trabalho, a propriedade, a apropriação, a identidade, a responsabilidade social e o papel social, e por ai vai. Interface automática, plug and play, nosso sistema operacional entendia e vicejava sob essas condições, ao menos era compatível. Nosso deus era o mesmo. Gavetas, portas e prateleiras, botões, penicos e abotoaduras, golas, fivelas, assinatura, nada dissemelhante, apenas deslocado, talvez um pouco sacudido, mas com um pouco de suor e esforço, com um pouco de trabalho e disciplina, e previdência, as coisas iriam melhorar. Tijolos e telhas, heranças e tulhas...

Mas o índio, pobre e caricato, hoje dá flechada no BNDES, como não extingui-lo apenas por lhe dizer bom dia, vai aí um crucifixo, um espelho e um pouco de varíola?

Mas o índio rico e digno, mais digno que ou tão quanto qualquer ministro ou gerente de fundos de aplicação, como não precisar de raízes profundas como as dele na terra que nos sustenta. Como não precisar de uma identidade natural e espontânea, como prescindir de uma pureza inocente e saudável nesse estado de coisas sem rumo?

Pois ele, índio, não me pediu, ou necessitava nos 1500, que fosse incorporado com certidão de nascimento e propriedade, e talvez hoje nós (os herdeiros e contadores da historia empapelada) estejamos tão imensamente grandes e desajeitados que não se possa mesmo mais se ter o luxo dum espaço pristino e natural. Alguns pensam que as reservas são zoológicos de gente (não é tão simples assim). Talvez qualquer movimento que se faça para salvar acabe apenas matando a frágil e tênue essência do que é ser índio, daí a necessidade de uma redescoberta, de um reencontro. Talvez em nossa cultura dominante não exista no “topo” nada que seja compatível, e muito que é essencialmente antagônico, e “contra índio”. E daí se tira, contra negro, contra mulher, contra criança.

Eu ouvi dizer que índio não tem neurose, ou patologia, ou doença mental, ao menos nada nem perto do que temos aqui no topo de nossas individualidades históricas que esforçadamente acumulam e protegem espaços e satisfazem ambições e desejos.

Desculpe, se eu não sei cutucar sua mente ou alma com um ensaio muito arrumado, com um estilo muito coerente. Desculpe se eu vou te descrevendo o que passa em minha mente enquanto vou tateando nessas impressões. É o único recurso que tenho pra compartilhar o meu desejo do que seria me tornar realmente um ser inteiro, um índio do mundo, enraizado na terra e frutificando generosamente um futuro.

A única reserva que posso oferecer aos outros índios é um espaço de respeito em meu coração, é um traço de eternidade em meus gestos, é uma rizada quando digo o meu nome revelando a brincadeira que é ser alguém, o quanto é mágico, e ilusório, se dar um nome. A única riqueza que posso ter é a que ofereço e a única terra, a que compartilho.

Será possível a cura para esse “mundo” nosso, será possível mudarmos visão e gesto, não para regredir a um estado primitivo, mas para vivermos plenamente a promessa do que é ser humano, com todas as melhores qualidades, com o coração cheio e o futuro aberto e luminoso? Será possível eu ouvir o canto aborígene e simplesmente entender que ele nos projeta às estrelas, que ele nos oferece o Universo?

Mais, muito mais por vir...

sexta-feira, julho 06, 2012

Meu Primo


Não é um assunto fácil, leve ou que encha a gente de esperança. Meu primo se matou com uma bala no crânio, por dentro da boca, para fora da cabeça. Isso me afeta de tantos modos que não sei como começar, ou se devo elaborar este texto. Aonde isso pode levar? Não é uma futilidade, uma vaidade se apropriar e discorrer sobre um assunto que não me pertence? Esse ato tão violento e dramático, final, mas que me faz perguntar, no que isso resulta?

A verdade é apenas essa, só o que posso fazer com honestidade é falar sobre como isso ou aquilo me afeta, pois meu primo escolheu seu próprio caminho, aparentemente de forma inexorável e premeditada, e peço perdão aos outros tocados por esse assunto pela minha impressão pessoal registrada aqui.

Meu pensamento me leva a buscar motivos, uma lógica, ou uma paixão, enquanto minhas tripas se embolam e a ficha duma compreensão maior balança, mas não cai. Como ainda se agarra minha mente à superfície dos fatos, a cronologia dos atos, ao encadeamento disso e daquilo, como se essas explicações bastassem. Se bastam, ou se me contento com elas, me parece, ainda assim permanece no meu peito um hálito curto, e uma queimação sem balsamo no coração e no estomago. Uma pílula que sufoca e anestesia, sem conforto.

Esse parente já ia distante, morava num corredor longo de muitas portas trancadas, ou lá coloquei tudo que dele existia para mim. Um longo telescópio pelo qual eu nada via. E enquanto isso naquele quarto distante, por razões que devem ter feito imenso sentido, meu primo montou sua despedida, deu a sua vida um fim e uma finalidade, qual seria?

Examino meu próprio coração cansado e ressentido, tento examinar meus atos e motivações, busco por essa alma perdida que não sou eu nem é ele, ou sequer alguém, mas o espaço que existe e entremeia. Tantas igrejas cruéis não o velariam, tantas explicações lógicas me isentariam de me importar, ou me permitiriam prosseguir meu rumo sem desvio, justificado em meus modos.

Vencedores, perdedores, aparências e enganos. Me saltam aos ouvidos as palavras Orgulho e Vaidade, e mesmo Egoismo. Ó julgamento tão duro, como ver os fatos e perdoar, e acolher, simplemente. Não consigo realmente imaginar o que diria, houvesse oportunidade concreta. Mesmo isso me parece uma desculpa fajuta quando se contempla esse vazio, esse hiato imenso e sem explicação ou tempo que é a Alma, onde flutuam sem mascaras pensamentos e emoções, onde meu próprio nome não faz sentido, onde meu primo, ou apenas outro humano jaz dolorido, violentado, interrompido.

Como pode ser? Como isso pôde acontecer? Como alguém pode se colocar tão só e distante, e que mundo existia em sua mente aonde uma bala cruzando o cérebro e interrompendo a vida de seu corpo transitório, poderia resolver e terminar a equação aberta do viver? Sentido, propósito, até mesmo vitória ou a mera explicação, quanto sofrimento, quanta aposta perdida nas areias movediças.

E me pergunto, será que ele está em algum lugar? Não o corpo “dignificado” pela cosmética funerária que vou encontrar no velório. Não as histórias e versões, não as responsabilidades e cobranças. Não à alma perdida dos espiritas vagando num limbo de auto punição, ou o excomungado católico que não pode por seu máximo pecado ser velado. Crueldade... Me pergunto se algo pode ainda ser dito e feito no intervalo de eternidade entre o passado, presente e futuro, nesse hiato sem teto aonde flutuamos infinitamente. Posso crer que é real? Posso me recusar a abandonar e simplesmente ser fiel à vida? Posso estar permanentemente presente e disponível, e oferecer paz, bem, cura, abrigo, balsamo?...

Não me dissolverei na mesma tempestade que rasgou meu primo, não vou me afundar no mesmo atoleiro de emoções e carências confusas dos que ficaram “para tras”?

Tirar a própria vida, um ato de coragem estranha, e de trágica distancia entre um e si-mesmo. Ver-se como objeto que ao ser erradicado resolve seus próprios problemas... uma loucura que só pode surgir nas dimesões ilimitadas do ser. Quem pode fazer isso senão um ser que nunca foi prisioneiro desses problemas para começar? Todas as culpas são ilusões e falsidades desse mundo, mágoas e cobranças daqueles que se sentiram abandonados, ou a punição que talvez ainda continue ecoando no redemoinho dum EU insistente. Quantos mundos e tragédias podemos encenar..? A única dó é a do aprisionamento em bolhas cegas e estanques, e mesmo estas são lixadas e rompidas, eventualmente revelando o espaço destampado, sem bordas ou fundo, calmo espaçoso e silente.

Meu primo: rogo para que suavemente penetre em sua mente uma centelha que emende seus pedaços, que se torne uma voz que o exime de exigência ou culpa, que o exime de ambição ou vitória, que apaga seu nome e todo registro passageiro e que te deixa em paz e revigorado para de novo ser quem você realmente é. Um ser livre de culpa, dívida ou mágoa. Rogo para que você rapidamente seja reconhecido no meio dos seus, e para que sua cura se dê rapidamente, aonde quer que você se encontre. Que quando suas cinzas se dispersarem no vento e no solo, que esse vento traga um novo alento, que esse solo mais uma vez te acolha e sustente, e que o céu, ah! Que o céu que tudo acolhe esteja sempre presente para voce!

domingo, abril 08, 2012

A GEOGRAFIA SEMPRE VENCE - IAN MORRIS- VEJA

A GEOGRAFIA SEMPRE VENCE

Veja - Paginas Amarelas - 17 DE DEZEMBRO, 2011
Entrevistado - IAN MORRIS
Por ANDRÉ PETRY, DE BOSTON

Autor de um livro excepcional, o historiador e arqueólogo fala das lições da história e prevê que o Ocidente está a menos de um século de perder a supremacia para a Ásia

"Temos um modo próprio de fazer as coisas. Somos movidos por ganância, preguiça ou medo"

Mesmo falando e escrevendo apenas em inglês, mesmo dando aulas em Stanford, mesmo tendo nascido na inglesa Stoke-on-Trent, e como tal ser herdeiro do primeiro império global, o historiador e arqueólogo Ian Morris, 51 anos, não caiu na armadilha de ver o mundo apenas através da lente anglo-saxônica. Num livro estupendo, Why the West Rules — For Now (Por que o Ocidente Domina o Mundo — Por Enquanto), Morris narra os últimos 15 000 anos da história humana entrelaçando biologia, sociologia e geografia, com destaque para a geografia, e explica por que impérios caem e o que o futuro nos reserva. "A geografia é a razão das mudanças mais profundas", diz. Mantido o atual compasso, ele arrisca: a Ásia vai superar o Ocidente em 2103. A seguir, sua entrevista a VEJA.

***

Petry: O senhor afirma que a história humana tem três forças motrizes: a biologia, a sociologia e a geografia. Elas são igualmente relevantes?

Morris: São diferentes. A biologia não nos deixa esquecer que somos animais, só que símios inteligentes. Temos necessidades parecidas com as de outros animais e fazemos coisas semelhantes. A grande diferença está no modo como nos adaptamos ao mundo. Os demais animais se adaptam através da biologia, da evolução genética, que é extremamente lenta. Nós, com nosso cérebro grande, contamos com a evolução cultural. Quando acabou a última era do gelo, há 15 000 anos, todos os animais fizeram a mesma coisa, inclusive os humanos: alimentaram-se da repentina fartura de plantas e animais menores. Só que nós, mais por acidente que por esperteza, inventamos a agricultura. A população começou a crescer, surgiram as comunidades agrárias, inventamos as cidades, os estados, os impérios, e aqui estamos. A biologia explica por que estamos tentando melhorar nosso padrão de vida constantemente, mas não como fazemos isso. É onde entra a sociologia. Ela nos ensina que somos muitíssimo parecidos uns com os outros, não importa de que lugar do planeta viemos, não importa a cor da pele. Temos um modo próprio de fazer as coisas. Em geral, somos movidos por ganância, preguiça ou medo. Estamos sempre em busca do meio mais lucrativo, mais fácil e mais seguro de fazer as coisas.

Petry: A biologia e a sociologia explicam as semelhanças globais, enquanto a geografia explica as diferenças regionais?

Morris: Sim. A geografia determina em que lugares o nível de desenvolvimento será maior ou menor. Se colocarmos 500000 pessoas no Brasil e 500000 na Alemanha, elas vão se desenvolver de forma desigual porque estarão em locais distintos, diante de desafios diversos, e não porque brasileiros e alemães tenham diferenças de natureza biológica ou sociológica.

Petry: Então somos premiados com boa geografia, ou punidos com má geografia, e nada podemos fazer para interferir no nosso destino?

Morris: A geografia determina o nível de desenvolvimento, mas o nível de desenvolvimento, à medida que se materializa, provoca um efeito tal que acaba mudando o significado da geografia. A má geografia pode virar boa geografia.

Petry: Onde a má geografia está virando boa geografia hoje?

Morris: No Oceano Pacífico. A enorme extensão do Pacífico sempre foi uma barreira física, mas está se transformando numa imensa avenida. O Pacífico é gigantesco. Acabei de sobrevoá-lo ao ir para Hong Kong. São horas e horas dentro de um avião vendo mar, só mar. Mas o desenvolvimento dos transportes e das comunicações está encolhendo o Pacífico, e assim mudando seu significado. O Atlântico passou pela mesma mutação nos séculos XVIII, XIX e XX. O encolhimento do Pacífico começou depois da II Guerra, em 1945. É a principal razão da atual ascensão da Ásia. Com a redução das distâncias entre a Ásia e a costa oeste da América, as vantagens das economias asiáticas estão entrando em cena. Nas décadas de 70 e 80, vimos a explosão econômica do Japão, que depois tropeçou numa série de problemas. São acidentes de percurso, que acontecem a toda hora, pois a história não é linear. Mas as forças geográficas que operaram a favor do Japão há quarenta anos seguem em plena ação, favorecendo outras economias asiáticas.

Petry: Hoje, a principal corrente de pensamento atribui o progresso material e social à presença de instituições abertas e de valores democráticos numa sociedade. Isso não é mais relevante do que a geografia?

Morris: As instituições e os valores são essenciais para explicar o passado recente, mas, a longo prazo, as coisas são dirigidas por forças materiais mais profundas, especialmente a geografia. Não há dúvida de que os países do Atlântico Norte chegaram ao domínio global nos últimos 200 anos porque tinham sociedades mais abertas, instituições mais livres e sistemas legais de proteção da propriedade privada e dos direitos individuais. Por isso a Holanda e a Inglaterra foram os grandes poderes do século XIX, e não a Espanha ou Portugal. No entanto, para sabermos por que essas instituições mais livres floresceram na Holanda e na Inglaterra, e não na Polônia, na Itália ou no Império Otomano, temos de recorrer às forças materiais. A geografia foi o fator decisivo que alçou Portugal e Espanha à condição de líderes no descobrimento e na colonização das Américas. Os portugueses e espanhóis, como todo colonizador, saquearam suas novas possessões territoriais. Os ingleses, franceses e holandeses adorariam ter feito o mesmo. Mas, nas terras que hoje fazem parte do Canadá e dos Estados Unidos, a geografia era outra. Não havia mina de prata ou ouro, não havia império asteca ou inca. Na ausência dessas riquezas, os colonizadores da América do Norte precisaram encontrar outra saída, e criaram uma coisa nova: economias conectadas, economias complementares entre dois continentes, América e Europa. Trata-se de economia: baseadas no mercado, em torno da costa atlântica. Por sorte, esse tipo de economia funciona muito bem em países com instituições mais abertas. No século XVI, Holanda e Inglaterra já eram países um pouco mais abertos que Espanha ou Itália. Integradas ao comércio atlântico, essas instituições mais abertas e livres se revelaram adaptações perfeitas à economia de mercado. E desabrocharam.

Petry: A China virou a locomotiva do mundo, mas os chineses vivem sob um regime autoritá¬rio, com instituições fechadas. Dá para um país assim, impermeável a novas ideias, chegar ao topo do mundo?

Morris: A democracia, por ser um regime de liberdade e abertura, é muito superior em termos de geração de novas ideias. Mas simplesmente não sabemos se a ausência de democracia será um obstáculo intransponível para a China. Há cinquenta anos, parecia impossível ter um mercado financeiro capitalista num estado comunista de partido único. Mas os chineses mostraram que era possível adaptar um ao outro. Claro que, na prática, os chineses deixaram de ser comunistas. Dizem que são, mas não são, embora mantenham o regime de partido único. Quem hoje poderá dizer que eles não conseguirão compatibilizar a regra do partido único com alguma forma de mercado intelectual? O que posso dizer é que não será fácil.

Petry: Quando os regimes comunistas ruíram, surgiu a tese do "fim da história", que seria o triunfo final do capitalismo e da democracia liberal.A ascensão da China é a negação dessa tese?

Morris: No fim da década de 80, com a ascensão do Solidariedade na Polônia, a queda do Muro de Berlim e a dissolução da União Soviética, a maior parte do mundo concluiu que, num planeta tão conectado e rápido, só as democracias liberais seriam bem-sucedidas. Os chineses, vendo aqueles mesmos acontecimentos, e principalmente as manifestações na Praça da Paz Celestial, chegaram a outra conclusão, a de que aquilo tudo parecia a Revolução Cultural de duas décadas antes, e decidiram que não voltariam àquele caos sob hipótese alguma. Foi aí que se saíram com essa solução tão imaginativa de conjugar mercado capitalista com regime de partido único. Cederam ao capitalismo, mas, querendo ficar no poder, não cederam à democracia. Em 1930, muita gente concluiu que a saída eram os regimes totalitários. Pensava-se que o melhor eram países de extensão continental, industrialização pesada e processo de decisão centralizado. Ou seja: a saída era a União Soviética. Nessa época, o jornalista americano Lincoln Steffens (1866-1936) voltou da URSS e disse: "Eu vi o futuro, e ele funciona". Muita gente sensata e inteligente pensava assim. Pode ser que, dentro de meio século, as pessoas olhem para trás e vejam semelhanças entre 1930 e 1980. Em 1930, era o triunfo do totalitarismo. Estava errado. Em 1980, foi o triunfo da democracia liberal. Estará certo? Sem dúvida, as democracias ocidentais fecharam o século XX em posição de liderança. Mas não sabemos como será no XXI. Até agora, o pedaço que faz sucesso na experiência da China não é sua conversão à democracia, mas sua abertura ao capitalismo.

Petry: Com o epicentro da economia mundial se deslocando para a China, o Brasil, que fica geograficamente longe, sairá perdendo?

Morris: A distância geográfica será cada vez menos importante. À medida que o espaço físico vai cedendo em direção ao espaço digital, a geografia adquire outro significado. Já se disse que o mundo ficou plano, o que é obviamente um exagero. Ainda faz uma tremenda diferença nascer em Cambridge ou em Kinshasa. Mas o espaço cibernético está claramente mudando o antigo significado das grandes distâncias.

Petry: O senhor previu que, mantido o passo atual, a Ásia superará o Ocidente em 2103. Um mundo sob o domínio da China será muito diferente do mundo sob a supremacia americana?

Morris: Alguns cientistas políticos dizem que a China, ao se tornar mais importante, ficará mais parecida com um poder tradicional. Os EUA, no século XIX, gostavam de ver a si mesmos como um país diferente de todos os outros, mas, depois da II Guerra, quando começaram a ascender, ficaram parecidos com um poder tradicional. Empurrados para situações moralmente ambíguas, fizeram o que todo grande poder faz: apoiaram ditaduras repulsivas e líderes cujos valores são perfeitamente antagônicos aos valores americanos. É difícil dizer o que vai acontecer com a China, mas o comportamento do país na região sob sua influência direta, o Leste Asiático, já tem semelhanças com o relacionamento dos EUA com a Europa e a América Latina. Os EUA procuram administrar seu império mundial sem administrar diretamente os países. Preferem trabalhar com aliados a trabalhar com súditos. Creio que a China, apesar da cultura milenar e do jeito próprio de pensar e agir, fará algo semelhante.

Petry: Os momentos mais terríveis na história da humanidade são causados pela chegada do que o senhor chamou de "cinco cavaleiros do Apocalipse": migração, doença, fome, falência do estado e mudança climática. Qual deles é o mais perigoso hoje?

Morris: A resposta fácil seria dizer que não podemos fazer distinções, pois o que os transforma em "cavaleiros do Apocalipse" é o fato de aparecerem juntos. Há períodos históricos em que um ou outro surgiu, com efeitos desastrosos, mas sem provocar um colapso. Nos colapsos, eles estão juntos. É o caso da queda do Império Romano, da dinastia Han na China, da dizimação dos nativos das Américas com a colonização europeia. Mas, em geral, um dos cavaleiros deflagra o processo. No Império Romano, eu diria que tudo teve início com as doenças. No século XXI, minha aposta é que, se tivermos um colapso, ele começará com a mudança climática. O aquecimento global em si não é um desafio insuperável. Podemos nos adaptar ao pior cenário, que prevê elevação de 5 graus em algumas décadas. É um aumento enorme, mas não varrerá a humanidade do planeta. O colapso virá se o aquecimento global abrir a porta para os demais cavaleiros do Apocalipse.

Petry: De 1 a 10, qual o risco de um colapso mundial?

Morris: Inferior a 5. Com a globalização, nossos maiores problemas passaram a operar em escala global. A mudança climática, o terrorismo, os desequilíbrios comerciais, nada disso afeta apenas um país. O problema é que estamos enfrentando a nova realidade com instituições anacrônicas, de 200 anos atrás. A mais poderosa de todas segue sendo o velho estado-nação. É ele que detém armas nucleares, não as Nações Unidas. Quando a economia mundial começou a ir para o ralo em 2008, a ajuda não veio do FMI. Veio dos governos nacionais. Mas os governos nacionais ainda não aprenderam a superar as preocupações locais. O fracasso da conferência ambiental de Copenhague, em 2009, é um retrato disso.

Entrevista do Premier Chinês a Joelmir Betting

Caros,
Basicamente acho o prontuário e o diagnóstico do Primeiro Ministro válidos, acho notável o tom de “comando” sem papas na língua, naturalmente não é facil refutar uma analise assim pragmática e lógica.

Kung Fu Tsé – golpeia direto no ponto, sem delongas ou sutilezas. O que pode responder a nossa Capoeira e gingado?

É uma mudança politica e diplomática enorme lidar com o poder ascendente Chinês. Esse mais que qualquer outro é o significado real da “profecia” de reversão polar, nos orientaremos pelo Oriente. A visão e modo agir e Chinês está a cada dia mais explicita e articulada para nós estrangeiros periféricos. Nós que sempre gravitamos em torno da lógica e modo de agir do outro lócus de poder mundial – o ocidente eurocentrado – agora vemos nosso Norte em decadência ou nitidamente em menor ascenção diante do processo Chinês de expansão. Precisamos entender e nos relacionar com esse modo Chinês de ver o mundo sem nos curvar a ele apenas numa troca de mestres. Podemos acolher essas sugestões úteis, a nosso modo, mas acho importante manter que nosso momento é de afirmação (não de resistência), é talvez nossa oportunidade de deixar a vassalagem e a escravidão.

A Entrevista:

10 medidas para melhorar o Brasil (que funcionaram na China)


O Primeiro Ministro da China, Wen Jiabao, visitou o Brasil recentemente pela primeira vez e surpreendeu pelo conhecimento que tem sobre nosso país, segundo ele, devido o aumento da amizade e dos negócios entre Brasil e China, vem estudando nossa cultura, nosso povo, desenvolvimento e nosso governo nos últimos 5 anos e, por isso aproveitou a visita de acordos comerciais para lançar algumas sugestões que, segundo ele, foram responsáveis pelas mudanças e pelo crescimento estrondoso da China nos últimos anos.

Durante uma de suas conversas com a Presidente Dilma e seus ministros, Wen foi enfático no que ele chama de "Solução para os países emergentes", que é o caso do Brasil, China, Índia e outros países que entraram em grande fase de crescimento nos últimos anos, sendo a China a líder absoluta nessa fila.

O que o ministro aponta como principal ponto para um país como o Brasil desponte a crescer fortemente???

Mudanças imediatas na administração do país, sendo a principal delas, a eliminação de fatores hipócritas, onde as leis insistem em ver o lado teórico e não o prático e real de suas consequências, sendo que, para isso o país terá que sofrer mudanças drásticas em seus pontos de vista atuais, como fez a China nos últimos 20 anos, sendo os 10 principais os que se seguem:

1) PENA DE MORTE PARA CRIMES HEDIONDOS COMPROVADOS:
Fundamento: Um governo tem que deixar de lado a hipocrisia quando toca neste assunto, um criminoso não pode ser tratado como celebridade, criminosos reincidentes já tiveram sua chance de mudar e não mudaram, portanto, não merecem tanto empenho do governo, nem a sociedade honesta e trabalhadora merece conviver com tamanha impunidade e medo, citou alguns exemplos bem claros: Maníaco do parque, Lindeberg, Suzane Richthofen, Beira Mar, Elias Maluco, etc. Eliminando os bandidos mais perigosos, os demais terão mais receio em praticarem seus crimes, isso refletirá imediatamente na segurança pública do país e na sociedade, principalmente na redução drástica com os gastos públicos em segurança. A longo prazo isso também reflete na cultura e comportamento de um povo.

2) PUNIÇÃO SEVERA PARA POLÍTICOS CORRUPTOS:
Fundamento: É estarrecedor saber que o Brasil tem o 2º maior índice de corrupção do mundo, perdendo apenas para a Nigéria, porém, comparando os dois países o Brasil está em uma situação bem pior, já que não pune nenhum político corrupto como deveria, o Brasil é o único país do mundo que não tem absolutamente nenhum político preso por corrupção, portanto, está clara a razão dessa praga (a corrupção) estar cada vez pior no país, já que nenhuma providência é tomada, na China, corrupção comprovada é punida com pena de morte ou prisão perpétua, além é óbvio, da imediata devolução aos cofres públicos dos valores roubados. O ministro chinês fez uma pequena citação que apenas nos últimos 5 anos, o Brasil já computou um desvio de verbas públicas de quase 100 bilhões de reais, o que permitiria investimentos de reflexo nacional. Ou seja, algo está errado e precisa ser mudado imediatamente.

3) QUINTUPLICAR O INVESTIMENTO EM EDUCAÇÃO:
Fundamento: Um país que quer crescer precisa produzir os melhores profissionais do mundo e isso só é possível quando o país investe no mínimo 5 vezes mais do que o Brasil tem investido hoje em educação, caso contrário, o país fica emperrado, aqueles que poderiam ser grandes profissionais, acabam perdidos no mercado de trabalho por falta da base que deveria prepara-los, com o tempo, é normal a mão de obra especializada passar a ser importada, o que vem ocorrendo a cada vez mais no Brasil, principalmente nos últimos 5 anos quando o país passou a crescer em passos mais largos.

4) REDUÇÃO DRÁSTICA DA CARGA TRIBUTÁRIA E REFORMA TRIBUTÁRIA IMEDIATA:
Fundamento: A China e outros países desenvolvidos como os EUA já comprovaram que o crescimento do país não necessita da exploração das suas indústrias e empresas em geral, bem pelo contrário, o estado precisa ser aliado e não inimigo das empresas, afinal, é do trabalho destas empresas que o país tira seu sustendo para crescer e devolver em qualidade de vida para seus cidadãos, a carga tributária do Brasil é injusta e desorganizada e enquanto não houver uma mudança drástica, as empresas não conseguirão competir com o mercado externo e o interno ficará emperrado como já é.

5) REDUÇÃO DE PELO MENOS 80% DOS SALÁRIOS DOS POLÍTICOS BRASILEIROS:
Fundamento: O Brasil tem os políticos mais caros do mundo, isso ocorre pela cultura da malandragem instalada após a democrácia desorganizada que tomou posse a partir dos anos 90 e pela falta de regras no quesito salário do político. O político precisa entender que é um funcionário público como qualquer outro, com a função de empregar seu trabalho e seus conhecimentos em prol do seu país e não um "rei" como se vêem atualmente, a constituição precisa definir um teto salarial compatível com os demais funcionários públicos e a partir dai, os aumentos seguirem o salário mínimo padrão do país, na China um deputado custa menos de 10% do que um deputado brasileiro. A revolta da nação com essa balbúrdia com o dinheiro público, com o abuso de mega-salários, sem a devida correspondência em soluções para o povo, causa ainda mais prejuízos ao estado, pois um povo sentindo-se roubado pelos seus líderes políticos, perde a percepção do que é certo, justo, honesto e honrado.

6) DESBUROCRATIZAÇÃO IMEDIATA:
Fundamento: O Brasil sempre foi o país mais complexo em matéria de negociação, segundo Wen, a China é hoje o maior exportador de manufaturados do mundo, ultrapassando os EUA em 2010 e sem nenhuma dúvida, a China e os EUA consideram o Brasil, o país mais burocrata, tanto na importação, quanto exportação, além é claro, do seu mercado interno, para tudo existem dezenas de barreiras impedindo a negocição que acabam em muitas vezes barrando o desenvolvimento das empresas e refletindo diretamente no desenvolvimento do país, isso é um caso urgente para ser solucionado.

7) RECUPERAÇÃO DO APAGÃO DE INVESTIMENTOS DOS ÚLTIMOS 50 ANOS:
Fundamento: O Brasil sofreu um forte apagão de investimentos nos últimos 50 anos, isso é um fato comprovado, investimentos em infraestrutura, educação, cultura e praticamente todas as demais áreas relacionadas ao estado, isso impediu o crescimento do país e seguirá impedindo por no mínimo mais 50 anos se o Brasil não tomar atitudes fortes hoje. O Brasil tem tudo para ser um grande líder mundial, tem território, não sofre desastres naturais severos, vive em paz com o resto do mundo, mostrou-se inteligente ao sair ileso da grande crise financeira de 2008, porém, precisa ter a coragem de superar suas adversidades políticas e aprender investir corretamente naquilo que mais necessita.

8) INVESTIR FORTEMENTE NA MUDANÇA DE CULTURA DO POVO:
Fundamento: A grande massa do povo brasileiro não acredita mais no governo, nem nos seus políticos, não respeita as instituições, não acredita em suas leis, nem na sua própria cultura, acostumou-se com a desordem governamental e passou a ver como normal as notícias trágicas sobre corrupção, violência, etc, portanto, o Brasil precisa investir na cultura brasileira, iniciando pelas escolas, empresas, igrejas, instituições públicas e assim por diante, começando pela educação patriótica, afinal, um grande povo precisa amar e honrar seu grande país, senão é invevitável que à longo prazo, comecem surgir milícias armadas na busca de espaço e poder paralelo ao governo, ainda mais, sendo o Brasil um país de proporções continentais como é.

9) INVESTIR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA IMEDIATAMENTE:

Fundamento: Proporcionalmente, o Brasil investe menos de 8% do que a China em ciência e tecnologia, isso começou a ter forte reflexo no país nos últimos 5 anos, quando o Brasil passou a crescer e aparecer no mundo como um país emergente e que vai crescer muito a partir de agora, porém, não tem engenheiria de qualidade, não tem medicina de qualidade, tecnologia de qualidade, não tem profissionais com formação de qualidade para concorrer com os países desenvolvidos que encontram-se mais de 20 anos a frente do Brasil, isso é um fato e precisa ser visto imediatamente, pois reflete diretamente no desenvolvimento de toda nação.

10) MENORIDADE PENAL E TRABALHISTA A PARTIR DE 16 ANOS
(o mundo está envelhecendo...):
Fundamento: O Brasil é um dos poucos países que ainda possuem a cultura de tratar jovens de 15 a 18 anos como crianças, não responsáveis pelos seus atos, além de proibi-las de oferecer sua mão de obra, isso é erro fatal para toda a sociedade, afinal, o Brasil, assim como a grande maioria dos paises, estão envelhecendo e precisam mais do que nunca de mão de obra renovada, além do que, essa contradição hipócrita da lei, serve apenas para criar bandidos perigosos, que ao atingirem 18 anos, estão formados para o crime, já que não puderam trabalhar e buscaram apenas no crime sua formação. Na China, jovens tem permissão do governo para trabalhar normalmente (não apenas como estagiários como no Brasil) a partir dos 15 anos, desde que continuem estudando e, sim, respondem pelos seus crimes normalmente, como qualquer adulto com mais de 18 anos.


Recebi este texto por email dizendo que foi retirado do Blog do jornalista Joelmir Beting da Rede Bandeirantes, e assim o repasso, segundo Joelmir, o texto não está na íntegra, já que não foi permitida a sua divulgação nos meios de comunicação, também, segundo o assessor que permitiu o "vazamento" do relatório da conversa com o primeiro ministro chinês, o governo brasileiro optou por não divulgar estas informações por não se tratarem da real missão do primeiro ministro ao Brasil, que era apenas para tratar de assuntos comerciais entre os dois paises, mas como diz Joelmir, para bom entendedor, apenas isso basta, ou seja, não há interesse do governo em divulgar esses fatos, pois, para o PT e demais governantes, do jeito que o Brasil se encontra é exatamente o jeito que eles sempre sonharam, um país que reina a impunidade política e o povo não tem vez nem voz, até porque, essa cultura que o sr Wen tanto cita, é exatamente o que poderia causar problemas na atual política brasileira, portanto, um povo acomodado e que apenas assiste de camarote o corrupto sacar dinheiro do seu próprio bolso, é o sonho de qualquer criminoso do colarinho branco.

Brasileiro num Mundo em Transição

Acabei de dar um repasse no capitulo Cultura Brasileira do Livro A Refundação do Brasil de Luiz Gonzaga de Souza Lima e de ler uma entrevista do Primeiro Ministro Chinês ao repórter Joelmir Betting.

Também ainda tenho os neurônios vibrando pela leitura de um livro fundamental:
Why the West Rules – for Now: The Patterns of History and What They Reveal About the Future (Por que o Ocidente Domina o Mundo — Por Enquanto: Os Padrões da História e o que Eles Revelam Sobre o Futuro), de Ian Morris
Espero poder compartilhar mais a respeito desse livro.

Vou publicar em seguida a entrevista na Veja aonde fiquei sabendo sobre esse trabalho acima e a entrevista do Premier Chinês.
Que os deuses do copyright e todos mais me perdoem, hoje estou com postagem compulsiva!
Ai vai para quem me atura nessa Páscoa:


Brasileiro num Mundo em Transição

Ser brasileiro talvez não seja um direito... é uma missão. Ser brasileiro não é algo que existe, é algo que se inventa. Não e algo que se encontra, e algo que se cria. É uma afiliação forcada e sedutora. Ser brasileiro, e agir, é produzir cultura.

É possível ficar á margem, ignorar, viver dos frutos abundantes dessa terra e simplesmente não participar do algo maior, que é esse desafio colossal e intimo de encontrar um lugar mestiço e novo num mundo de cores antigas e definidas. Uma nova dança dentro da velha polca... acho que o mundo nunca chegou a valsar.

Se antes respondíamos, ou nos enquadrávamos à ótica eurocêntrica que tinha seus modos de nos qualificar e desqualificar, que tinha seus degraus e comportamentos que devíamos replicar, agora com a mudança das marés da história teremos que nos posicionar, mais coerentemente frente a uma visão de mundo potencialmente ainda mais ancestral e totalitária - a Chinesa.

A entrevista do primeiro ministro Chinês ao Joelmir Betting, é menos uma sugestão que um mandato dum céu de Confúcio, é o velho código de comportamento ancestral do homem virtuoso re-editado para a economia de mercado. Tem mérito, mas provém de uma lógica pré moderna e binária, onde o erro é irreparável, punível com morte, e esse é apenas o primeiro tópico.

Não devemos nos impressionar demais com a ascensão do poder imperial chinês, mas não podemos extrapolar demais nossa influencia ou importância dentro do quadro geopolítico atual e futuro. Ainda somos e talvez continuemos sendo "os pequeninos". Algo positivo num mundo de certezas congeladas e estruturas enrijecidas. Os pequenos, os periféricos talvez percebam e lidem melhor com as mudanças do evoluir da história humana e da própria terra no seu processo cósmico.

O novo cenário que se descortina apresenta o poder mundial em forte transição. Como prevê com forte embasamento o livro supracitado, pela primeira vez em vários milênios e de modo incontestavelmente global o domínio passará das mãos europeias para chinesas. Será um mundo muito diferente e nele deveremos encontrar como nação uma bússola interna muito clara, ou nos tornaremos apenas sujeitos de mandatos do céu chinês, num mundo organizado e limpo a partir do comando central (quem sabe até benigno) de um império totalitário e extenso. Um império acostumado a ser império...

Pode ser que essa seja uma fase importante da história futura, mas também poderá ser extremamente opressiva para os que não encontrarem alguma forma de soberania interna que se sobreponha uma lógica de dominação mundial para organização da economia e do trabalho, e da geração de um fluxo de riquezas que beneficie o “Novo Imperador”.

Mais que nunca se torna importante encontrar um espaço compartilhado aonde a existência plena e feliz do humano possa se desenrolar, e se sobrepor a coisificação e ao congelamento. Esse é um espaço que só pode surgir numa periferia menos ocupada com o desempenho do controle e do poder e mais próxima da experiência plena do que é realmente ser humano nesse universo enorme e misterioso.

Por isso acho importante não nos ocuparmos de pretensões diretas de influencia global, mas sim como tem sido no aspecto de nossa cultura, que nossa "influencia global" continue a ocorrer ainda mais desse modo “divino”, sem agenda, valoroso mas sem preço de uma bossa que se ouve e nos faz balançar.

Ser Brasileiro é uma missão e uma emoção, uma emissão (? rs) de uma vibe subliminar...

Divago no swing irresistível da rima.

O ponto é que ainda somos a nação jovem de antes, e operamos dentro das mesmas forcas antigas, que temos dentro de nos. A inserção de nossa relativamente curta história no contar da história mais antiga da humanidade é uma necessária ampliação de perspectiva e de contexto, pois implica em recontar essa mesma história, com a nossa voz e visão. Voz essa não necessariamente dissemelhante, mas certamente rica em acréscimos fundamentais. O jogo mundial é pesado, e os jogadores são duros, não podemos nos ufanar nem iludir que nos basta o nosso charme tropical, como se fossemos algo pois lá não cantam os pássaros como o singelo sabiá daqui. O sabiá é um tesouro que nos enriquece a alma, fortalece a resolução, alegra as manhãs, mas não nos faz intrinsecamente melhores. O que nos faz bons (e não melhores) é a capacidade de sorrir, de superar, de criar e transformar, de viver do mundo e para o mundo, cuidar, plantar, orar no plantio e festejar a "colheita". E isso vale é claro para qualquer humano nessa sintonia. Quem sabe Brasil não possa ser uma estação de radio para se sintonizar na alma.

Por isso coloquei no grupo algumas reuniões atrás a questão de como podemos de uma cultura nacional (que não é apenas mas é em grande parte uma) nascida de resistência à dominação feitorial e opressiva, que é uma cultura ainda recente de resistência a um coturno ignorante e insensível a singeleza da balada cortante, evoluir em uma cultura que realmente nos aproxime a todos e que seja o alimento duma nação produtiva, acolhedora, ecológica e exemplar. Uma cultura signatária de um mandato mais profundo e amplo que qualquer articulação Confucionista, Marxista, Fascista, Budista, Cristã. Um conjunto de humanos, nação singela herdeira da vida e da história, capitã incontestável de seu presente, e humilde administradora dos tesouros deixados para o futuro sustentável e “sem fim”. Exemplo nunca totalitário da possibilidade inesgotável do melhor do humano, dos recursos infindáveis da Vida. Honrada descendente dos Espíritos ancestrais dessa Geografia generosa. Amiga, pacifica, esplendida, magnifica, singela... Soberana Inatacável.

Resumindo, como um primeiro aspecto, esse texto tenta alertar, que em se falando do lugar do Brasil e da brasilidade no mundo surge a necessidade de uma percepção clara do cenário mundial e de inserção de nossa história dentro da história humana milenar. O que não é óbvio nesse caso é qual é a configuração real do cenário mundial agora e no futuro próximo, a transição do locus do poder não é tão obvia, pois a analise desse cenário futuro é tão complexa com tantos elementos, perspectivas e influencias, que não proporciona uma visão clara quanto ao ambiente mundial que está surgindo e se consolidando. Hoje o que é um fator obscuro e menor pode ser um elemento preponderante no futuro.

O segundo aspecto complementar quer pensar sobre a necessidade de um abraçar mais lúcido e criativo desses aspectos que nos aproximam do que podemos chamar de sonho do Brasil. Ou seja mais que nunca precisamos entender o mundo do qual somos parte desse pais ideal e nos colocar participativamente nele, precisamos encontrar aquilo que pode nos fazer um todo saudável num mundo enfrentando tantas dificuldades.

Se é possível fazer isso de modo explicito, se é possível se pensar num sentimento de pertencimento e de nacionalidade e de como melhora-lo, como distribui-lo eu não sei. Não sei se cabe ai analise e manipulação, ou se cabe apenas um olhar confiante no desenrolar natural desse processo que tem sido a construção dessa nacionalidade. Então fica a questão, será possível, no âmbito da cultura, dessa criação coletiva e espontânea, oferecer significados que possam ser abraçados por todos, que de modo mais intimo e intenso inflame seus corações e mentes, que aqueça a existência, e que abra a roda pra um balanço que ninguém ainda viu nesse planeta, quiçá na Galáxia??

Abraço de um delirante ululante, é o chocolate pascoal!