quarta-feira, novembro 05, 2014

Melancolia

Saudades do Olimpo.
Do coração cheio de emoções enormes 
Como o oceano de Ulisses
Me falta Atlântida
Me faltam faunos, sílfides

Hércules, Caronte, Baco
Hera, Helios, Hermes, Athena
Minotauro, Icaro

Onde?

Um firmamento pra minha alma
Constelações
Norte

O mundo complicou-
Mil dobras
Plano e sem graça
O cruzamos com motores de mil cavalos

Nenhum Pegaso
Riquezas sem fim
Nenhuma maravilha...



Fé e Política.... Acho que não!



Recentemente aqui em minha cidade houve um seminário no CDDH (Centro de Defesa dos Direitos Humanos) fundado pelo Leonardo Boff. Se chamou "Fé e Politica", não participei, claro que portanto não posso discutir o conteúdo, nem criticar pessoas ou qualquer coisa do tipo, mas posso falar do que o titulo me faz pensar.

Fé e Política

Combinação curiosa

Na chamada por um email aberto e publico (por isso aqui compartilho) o pequeno trecho me desafia:

>De acordo com Leonardo Boff, presidente do CDDH, a Fé e a Política caminham juntas na vida de cada indivíduo. “A fé diretamente tem a ver com Deus e seu desígnio sobre a humanidade. Mas ela está dentro da sociedade e é uma das criadoras de opinião e decisão... Pela roda da política a fé se expressa pela prática da justiça, da solidariedade, da denúncia da corrupção”.<

São belas palavras, que no meu ver escondem uma complexidade.

"Deus e seu desígnio sobre a humanidade"

Esse Deus mitológico, em nome do qual sobre o qual muita crueldade já foi feita por aqueles que sabem seu desígnio. Essa fé robusta complicada e séria, que em nenhum momento revela o ponto de sua própria construção e desconstrução. Só os teólogos conhecem realmente sua montagem, e estes mesmos se perdem em seus meandros. Não é um Deus ou uma Fé que oferecem em nenhum momento a liberdade real, que seria a libertação desse Deus imaginário por uma espiritualidade para além de toda forma e conteúdo, nem de uma Fé que ao final se torna desnecessária por um viver inteiro.

Converter essa política em Fé, ou os seus Faraózinhos em mito é a consequência natural dessa mistura. A afirmação é totalmente verdadeira, de que a Fé "está dentro da sociedade e é uma das criadoras de opinião e decisão..." Entretanto o lidar com isso, fazendo a política o veiculo da fé (e de uma só correta e justa) dirigida por aqueles que conhecem os Desígnios, ou faze-la a praça aonde elaboramos as nossas "fés", burilamos nossas opiniões e desvelamos/criamos/entendemos nosso desígnio e potencialidade sempre em fluxo e em liberdade, em liberdade até daquilo que cremos. Por que a vida é mais real que nossos fantasmas, egos e ideias.

Por isso acho o mix do tema do seminário uma daquelas racionalizações perigosas, esse entendimento dos meandros das almas e das paixões, de sua estrutura profunda aonde o mito rege e anima, misturada com um pragmatismo de quem crê que pode adivinhar o caminho por que conhece o desígnio, é um perigo. Tenho certeza que desde Rasputin ou Richelieu, todos os Conseglieri, até o Projeto Manhattan ou o Foro de São Paulo, todos são cheios de boas intenções. Mas a Psicologia que liberta também serve pra manipular, o marketing que vende o sabão melhor vende tiriricas pra plantar em nosso Jardim, e a Fé serve de alavanca, assim como o Mito de justificativa para atos acima da lei dos homens...

Fé e Política.... Acho que não!

Por que fé não é aquilo em que se crê, antes é a capacidade de crer em algo, e acrescentaria, a capacidade de se maravilhar e de compartilhar em inocência a descoberta e criação do mundo. Essa capacidade de crer, de entender, sustenta a capacidade de se dar um testemunho pessoal, e não necessariamente um consensual. Assim como Esperança não é o esperar alguma coisa, mas um entendimento do processo positivo do viver e de seu desenrolar compassivo para aqueles que se entregam ao seu fluxo.

Aprisionar a Fé (no meu entender - a capacidade de crer em algo e infundir esse algo de significado e vitalidade humana) congelando-a no conteúdo (o objeto – aquilo em que se cre), homogeneizar a Fé (todos devem crer nesse objeto de Fé – por mais elaborado e diáfano que seja como conceito) é aprisionar homens e suas energias, é homogeneizar o que é heterogêneo.

Obviamente vou falar aqui abaixo de um mito, o símbolo da coisa virada do avesso, a questão é que na casa de espelhos, na câmara escura, que é a psicologia humana as coisas podem virar assim de ponta cabeça.

O Anticristo, e para este existem várias opções (já esta aqui, nunca existirá, está chegando, é um mito, é real) é produto direto da fé homogeneizante. É o "Salvador" do universo paralelo, (do universo de paralelos que não se encontram) apocalíptico, finalista, dividido que se tornou o nosso. Profetizado por aqueles que viram nos mundos prováveis desde um passado até nosso agora, a forte tendência e real consequência de um pensar que separa a humanidade, agora tecnologicamente empoderada, ansiosamente acelerada, atômica, entre escolhidos e não escolhidos, entre fieis e pecadores. O Anticristo nem precisa encarnar, e já terá a seu serviço os maiores fieis, as carolas mais dedicadas, as rezadeiras mais fervorosas, todos os maiores apologistas da fé em (algo ou alguém) terá a seu serviço esquerdas e as direitas em igual medida na criação do não futuro.

Não, Fé e Política não funcionam...