Com a visita de Obama outras coisas também batem a porta, buscando acolhimento e recepção. Não posso deixar de responder a critica sobre o antiamericanismo que saltou para alguns nas minhas palavras. São partes desse meu discurso que foram entendidas como contendo imagens retrogradas. Talvez eu estivesse tentando fazer graça a um publico cativo, e buscando a concordância que surge da rejeição. Talvez, como um café requentado não se presta para o prazer, o amargo da forma ultrapassada de exprimir não deixa passar um sentimento de graça.
Dentro da visão que sinceramente busco projetar está uma palavra de ordem da Abordagem Integral – “Transcender e Incluir”. E hoje escutei uma interpretação de transcender em inglês (de todas as línguas...) Trance – End: encerrar o transe. Acabar com o aspecto hipnótico da separatividade, e assumir a responsabilidade e o cuidado com a relação...
Não quero nem preciso defender as formas de expressão e as perspectivas que usei – Imperador, Império, Augusto, Tribo – que remetem a nacionalidades, a uma visão particular da história, a ideologias e a formas estreitas de ver. Acho importante traze-las a baila, melhor seria se o humor ficasse mais aparente e a rizada sobre o ridículo dessa relação fosse impulso para a conquista de novas perspectivas. Pode ser que meu texto e eu mesmo não estejamos lá muito bem humorados, perdão. Uma expressão Americana diz “Deixe que os cachorros que dormem continuem deitados”. Isso pode ser sábio no inicio para não incensar um passado de mágoa, mas eventualmente a gente tem que falar da mordida do cachorro, isso é terapia e cura.
No Chile, ouvi, cobrou-se de Obama uma posição pela participação Americana na ditadura, parece que não houve resposta. É e duro reatar laços com gente que ficou magoada, mas que apesar disso se abre ao contato e ao dialogo. Por isso ainda aparece esse nacionalismo subjacente a minha gozação, nacionalismo que gostaria estivesse mais evoluído em mim mesmo isento de etnocentrismos e ideologia. O contato traz a lembrança inevitável duma mágoa imaginada e ou real, do ressentimento, e por que não da inveja. Outra expressão “Todo mundo de olho no Numero Um”, por admiração e por inveja/ressentimento, pelo desejo de seguir e pelo medo de ser atropelado... São sentimentos rejeitados, mantidos na sombra, que inesperadamente visitam e tomam conta do discurso neste e naquele acorde.
Ora, o mundo não é mais um lugar de Números Um, se alguém é Numero Um nessa frágil bolota é a vida e suas inter-relações. Cada vez fica mais evidente que o que importa é o movimento da criação que a gente identifica vindo da intencionalidade e “projeto” de um ser (ou de um não ser) magnifico e todo poderoso, a Teia da Vida para dar um nome. O Numero Um tem que ser todas as relações e estruturas que surgem desse local trans-material, dessa força mágica e imensurável que brota em Tsunamis, em paixões, na formiga e no elefante... A gente, partícula, brinca ou às vezes leva a serio essa dança. Um filosofo, Americano, Alan Watts, diz que como de uma arvore de maçãs pode se dizer que “maçanzeia” (dá maçãs, se torna maçãs), podermos do nosso planeta dizer que “Genteia” se torna em gente, dele brota essa coisa que somos enquanto somos ele...
Então claro diante desse aspecto amplo não existe essa divisão, e a experiência Americana e a Brasileira são a experiência das gentes e do planeta no seu processo de “Gentear”. São partes desse genteamento que está querendo dançar e dialogar. Creio cada vez mais que ainda não nos tornamos a gente que Gaia sonha. Sinto nos ossos-bussola, lá dentro, como profecia que está para surgir uma Humanidade nova, igual e diferente. Daí que me empolga imaginar que Brasil e EUA possam se afinar, para mim o novo mundo surgiu aqui Feminino e lá Masculino, e para mim a própria forma dos continentes mostra um casal de mãos dadas, dançando.
Por que esse processo da história pode ser um namoro e um acasalamento de ideias e modos de ser, de reprodução e mutação. O que é visto como dialético se a gente olhar com clareza, deveria ser chamado de Trialético. Da tese à antítese à síntese, a transformação da história resulta em evolução. E evoluir é revisar conceitos, abandonar cidadelas, criar novas formas mais inclusivas, vitais e complexas. Evoluir é ampliar o espectro de aceitação, de possibilidades, e da capacidade de aceitar paradoxos. Temos a despeito de nossas piores intenções, evoluído. Mesmo que às vezes isso pareçamos ter sido um erro terrível, e que a Terra estaria melhor sem nós, é vaidade achar que sabemos o destino que a criação imanta em nossos ossos, e por que investe e sustenta e nos “adquire” nesse processo temporal do próprio solo bruto do planeta. Sensato é ouvir seu impulso gentil, e nos transformar.
O paradoxo da visita é o sentimento da necessidade de encontrar um nacionalismo saudável e inteligente, um verdadeiro e nobre sentimento de Tribo Brasilis, para daí se adquirir a “tração” de uma perspectiva madura e autônoma, auto determinada. Para então se poder encarar de frente uma igualdade e uma parceria com esse povo que a gente inveja e admira, que a gente teme e ao mesmo tempo quer amar. It takes two to samba. Projetar-mo-nos no mundo e reconhecendo-nos sermos reconhecidos, só acontecerá pelo processo interno de reavaliação da nossa História, pelos processos democráticos, e pela erradicação da mentira e falsidade da corrupção, pelo abandonar o entreguismo, o coronelismo e a submissão bovina, a preguiça e os maus modos.... Temos nos Americanos do Norte alguns bons exemplos a seguir nesse sentido. Nosso caminho para nos tornar uma sociedade de iguais, aqui dentro, é o caminho de nossa estatura, “la fora”. A admiração e o interesse humano genuíno que podemos estar despertando no mundo vêm das pequenas transformações e revisões recentes em nosso modo de ser. Ainda há um longuíssimo caminho a frente, e reclamar do passado, de fato, não vai ajudar.
Por isso, em revisão, eu diria que se o Índio que imaginei como o ponto de vista com que iniciei meu outro texto sobre a visita fosse o ser lucido, compassivo e desapegado que gostaria que fosse olharia para toda a parafernália cibernética e militar, para todo o cerimonial, sedução e pompa e veria através disso. Veria com compaixão o dilema do homem que visitando outras terras ordena um ataque à outra nação, e a prisão complexa investida no seu cargo politico. Seus dilemas pessoais e suas alianças. Veria como os povos são iguais no seu desejo de melhorar. Teria empatia pelo medo blindado e defendido, veria a limitação da ignorância deste e daquele, veria a futilidade da encenação e o proposito com que é encenada. Faria uma dança, pedindo uma chuva de bênçãos para cada um no planeta. Ainda assim veria o desenrolar do drama com calma e equanimidade. Impacto zero, não ia acender nenhuma lâmpada, nem precisar dum bunker de concreto. Camiseta e shorts ia aceitar o pastel do botequim cuidando com o mero olhar de cada um na Cinelândia. Reinando num mundo interno que lhe permite ver tudo exatamente como é, invisível como o ar esse Índio se refugia num espaço muito diferente, supera todas as defesas e penetra, oxigenando igualmente cada vida.
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