O Brasileiro - individuo imaginário que surge na minha mente, é um agregado hipotético do movimento de ocupação dessa geografia. É a resultante da pressão antrópica histórica e geográfica na forma dum individuo “médio” idealizado. Esse Brasileiro não é fruto dessa terra que tomou e tem muitos elementos para se sentir estrangeiro mesmo em casa. Creio que essa é mais uma das premonições do que é ser Brasileiro, o “Povo do Futuro”, por que acredito que desse mesmo modo a Humanidade vai acabar se percebendo como algo que busca e que precisa se diferenciar do solo mãe que a gerou.
No nascedouro do Brasil na Senzala não tínhamos a terra, nem mesmo o futuro, na Aldeia deixamos de existir, e na Casa Grande éramos estrangeiros fazendo fortuna numa terra exótica... Temos uma desconexão da terra como ideia de solo ancestral, pois em nosso mito histórico nós podemos explicar donde viemos – nas caravelas de outras terras. Não sei se o que vou dizer pode soar absurdo, pois de modo algum quero diminuir a experiência indígena, mas apesar de todas as influencias que claro existem em nossa cultura essas são periféricas, não chegaram a afetar o aço do cerne. A cultura indígena foi massacrada e muito mais que a negra, rejeitada e suprimida, por isso diria que ela teria que se ser reincorporada no caráter nacional, se isto é possível, para chegar a ser uma influencia forte. Acho isso difícil, as marcas desse trajeto dominador massacrante sempre serão parte e trauma que dificulta essa possibilidade. Por isso transmutar-nos em herdeiros legítimos dos indígenas me parece impossível de modo coletivo. Acho que nesse caso só resta o respeito e a honradez pelos aborígenes originais e uma busca pela reparação possível.
Quanto ao que é ser Brasileiro, as histórias do branco superaram e engoliram todas, e de modo irreversível e são a nossa versão oficial e consciente do que somos e de como nos sentimos. Não temos o sentimento de que como indígenas sempre existimos aqui, plantados como milho ou mandioca no chão. Não temos esses mitos ou essa história como povo, nem realmente as fizemos nossas. E como disse me parece que nossas relações ao longo dos séculos não permitem realmente incorporar um sentimento indígena/aborígene nacional, como talvez um europeu ou um asiático consiga traçar com o solo pátrio. Ou seja me parece que não nos é acessível uma raiz mais profunda e um laço mais subconsciente com a terra e com origens locais autenticas. Podemos é claro traçar e sentir esses laços e escala mais ampla, com a própria terra, mas dificilmente com esse pedaço de terra especificamente. Somos desterrados contemos a história como Brancos, Negros ou Indios. Nosso mito e história já é a explicação moderna, objetiva, e recente de nosso trajeto. O subjetivo que surge, escondido no mito moderno super objetivo, é um não ser da Terra, mesmo que sobre ela pisemos, construamos e plantemos. Esse modo de ver para mim explica, e permite traçar a hipótese, de por que a nação do Brasileiro é uma de conexões HUMANAS. Nós nos apoiamos, talvez de forma mais substantiva que outros povos, na conexão com o outro. No papo da fila do banco ou no mutirão pra construir a casa. Acredito que apreciarmos e até desenvolvermos essa característica de paixão, afetividade, conexão humana automática é uma virtude e mesmo uma qualidade especial de sobrevivência nesse planeta em colapso ambiental, e que essa pode ser a qualidade humana que falta brotar de modo mais acabado em nosso Planeta. A exploração da Intersubjetividade, dos mundos que criamos em nossa relação com o outro é a nova etapa que aparece para a Humanidade, e nessa fronteira que existimos como civilização, e aonde o Humano surge como Humano.
Nossa mãe começa a nos “expulsar” de casa. Parecem ser avisos, mas não creio ser essa uma questão moral. A crise ambiental pode não ser reversível, por que não é só atmosférica é geológica, e por isso pode ser muito maior que nós, maior que qualquer paliativo que possamos buscar no momento. Não conseguimos conceber a extensão e abrangência desse ciclo de mudanças, estamos navegando sem instrumentos. O Japão andou 2 metros e meio...! Posso imaginar que essa sacudida tectônica agora vai jogar pressão mais adiante, a coisa está se mexendo e a gente sente no mais intimo de nosso instinto, quase nos ossos. E só temos os ossos bussola.
Sei que parece cruel, e meio ficção cientifica, mas para mim tem um sentido e uma Urgência, de Profecia, de Evolução e de Movimento da Vida. Mas e se a terra for semente, que agora vai se secando, já que já deu fruto? O quanto tempo ela se aguenta para que amadureçamos e nos tornemos férteis, autopoiéticos e geradores autônomos de nosso meio?* Acreditando que a consciência humana não é uma doença e sim é o pináculo de realização da vida da terra, um investimento de todas as esferas que evoluíram aqui e um presente de Gaia para o Universo, creio que a Humanidade está destinada a carregar em seu bojo a memória de sua terra mãe e durar mais que planetas. Nossa fragilidade aparente é nossa força, sempre foi, e o teste é agora. Nossa inteligência e consciência, temos que crer, brotam das melhores aspirações de nossa mãe generosa, e se ela nos sacode não é por que nos odeia ou por que fomos tão horríveis assim que mereçamos o apagamento. Achamos, adolescentes, que ela nos pune e nos odeia, a verdade é que Ela só quer que acordemos para o fato de que ela não vai estar aqui para sempre. Claro que o certo é poluir menos, e buscar fontes alternativas de energia, mas nossos equívocos civilizatórios são uma parte pequena da crise que vivemos. O próprio Sol passa por um período incomum e joga mais energia que antes na heliosfera, afetando diretamente nosso clima e, dizem especialistas impactando energeticamente a nossa magnetosfera com consequências diretas na sismologia do planeta.
O que fazer? A Terra vai acabar amanhã? Pode ser, quem sabe de verdade? Pouco provável, mas é bom acatar os avisos... A Terra vai se esgotar um dia? Muito provável, o próprio Sol deve esfriar. Somos a doença do planeta e seria melhor não estarmos aqui? Não acredito, creio que Gaia sentiria nossa falta, e nosso desaparecimento não honraria seu esforço e dedicação.
Acho que a Humanidade “Futura” cada vez mais vai se destacar da terra, e na medida do possível reduzir seu impacto no planeta. Quem sabe um dia nós deixaremos nossa mãe descansar e se felicitar, orgulhosa daquilo que nos tornamos, e lhe contaremos histórias de nossas viagens e como vão os netos em outras galáxias?
O ponto é que grandes horizontes, Cósmicos, mesmo que não exatamente estes ficcionais, são profeticamente (por -Fé-ticamente) possíveis para o Humano. Sentimos isso nos espaços amplos da Alma. E não é uma questão de “Destino” como se houvesse um plano escrito, é a força criativa do próprio impulso de vida que nos impele a buscar mais longe, a realizar mais, a transcender e superar.
Nesse momento, o transcender as dificuldades com que nos deparamos se dá por reduzir o impacto no ambiente, e por distribuir as riquezas da civilização por todos, por reconhecer toda a vida como sagrada, e eu diria por não jogar fora o virtuoso da história e da civilização moderna junto com o problemático. Nossas Urbes tem cada vez mais que se tornar “estações espaciais” auto suficientes, altamente eficientes e limpas e com plantas compactas, de impacto zero e a prova das oscilações do planeta. É possível que nossas populações tenham que decrescer para aumentar a qualidade de vida da humanidade como um todo... Não é uma questão de decidir quem não vai viver, e sim de simplesmente reduzir paulatinamente os números como um todo e permitir acesso total a todas as benesses da civilização a todos de modo amplo e irrestrito...
Uma das questões, e problemas, que surgem da convivência conflitante entre as varias visões de mundo propostas pela Dinâmica da Espiral é que certas tecnologias, métodos ou entendimentos não surgem senão a partir de um estágio especifico. Um exemplo usado é o de que a bomba atômica só foi possível a partir do estágio moderno, e seria uma tecnologia impossível de ser criada em estágios anteriores não científicos. Uma vez surgida no espaço do “Kosmos” (termo usado por Ken Wilber para toda a esfera Objetiva-Externa junto com toda a esfera Subjetiva-Interna) essa tecnologia se torna disponível para todos os outros níveis. Então hoje nos preocupamos de modo real com a questão de Bombas Atômicas Modernas na mão de Aiatolás Tribais, um pepinaço! Também surgem novos aspectos filosóficos e argumentativos, como na desconstrução do Moderno vinda da critica Pós-Moderna, que em sua esfera é apropriada, mas que na relativização de atitudes guerreiras e individualistas pré-modernas se torna um problema, como na defesa dos direitos humanos de traficantes mafiosos e renitentes por exemplo. Ou na justificativa da construção e ocupação des-urbana das favelas que hoje após a catástrofe serrana mostra o perigo de vida que é esse tipo de aglomeração sem planejamento...
O Brasileiro é um Guerreiro, gostaria que ele passasse a ser, a se sentir e a agir como um cidadão. Essa consciência Guerreira e batalhadora consegue se defender até certo ponto das dificuldades da vida, uma tal “sabedoria dos pobres” que eu ouvi falar. Mas é inábil para lidar com os novos desafios da civilização e tem acesso a recursos que não são gerados em seu nível, que geram por si problemas de outro nível. Civilizações Guerreiras ancestrais nunca chegaram aos níveis de população atuais quando essas eram as dominantes. Suas batalhas e dificuldades ambientais impediam o crescimento populacional. A solução evidentemente não é, acabar com os Guerreiros, ate por que esse é apenas um aspecto de comportamento existente em cada um de nós, e que em cada individuo se apresenta em relação a esferas diversas da vida em graus diversos de intensidade e combinado complexamente com a existência e preponderância de outros níveis. É, é complicado mas não é tão difícil de entender quanto parece. Você pode ser Guerreiro no trabalho, tribal na família, tradicional na religião e moderno na educação...
Não tem um corte nítido, o ser humano em seu interior é uma coisa múltipla, mas é possível se entender esse interior. É possível se dialogar com essas camadas, do ser. Entendendo que elas não são classificações de indivíduos, e sim de pulsões internas, ou estruturas existentes em todos nós de forma mais ou menos dominante, de forma mais ou menos conflitante ou integrada. São estruturas que surgem de forma evolutiva, como nosso esqueleto surge das células que surgem dos átomos, não consideraríamos abrir mão dos átomos, ou oprimi-los por estes serem “inferiores, não é verdade? Assim também não abrimos mão das estruturas mais subconscientes, formativas e vitalmente estruturais.
A ideia geral da Dinâmica da Espiral é permitir, oferecer a todos, ao menos a possibilidade de alçar a outros níveis de entendimento e de abrangência em suas visões de mundo; além de buscar a redução do conflito para a convivência saudável e mutuamente honrada destas várias visões (experiências) de mundo. A Abordagem Integral utilizando a Dinâmica da Espiral e concebendo que o movimento evolutivo é um movimento natural e espontâneo do Universo tanto em seus aspectos Externos/Objetivos, Internos/Subjetivos e Relacionais/Intersubjetivos, se oferece como um novo patamar, além do Pós-Moderno aonde finalmente, como se diz –“A Evolução se tornou consciente de Si-Mesma”.
Isso quer dizer que ao contemplar a possibilidade de uma era Integral para as consciências, a Abordagem Integral se oferece como a possibilidade de ser fonte de harmonização entre as varias áreas de atrito que aparecem na briga por dominância das camadas anteriores. Isso por que é essa a primeira vez que essas mesmas camadas se tornam evidentes, e só se tornam evidentes a partir da lente da Consciência Integral. Pode surgir a pergunta se essa não é mais uma ideologia que busca a dominância, acho que não, visto que o objetivo desta visão de mundo é Integrar e Honrar a Beleza, a Justeza e a Verdade de cada uma destas camadas, alem de ser essa uma visão que preve a trancendencia de si mesma. Por isso acho que a Abordagem Integral pode oferecer um recurso único para alçar a Humanidade a uma nova etapa do processo evolutivo e oferecer soluções concretas para os problemas atuais.
* da Wikipedia:
Autopoiese ou autopoiesis (do grego auto "próprio", poiesis "criação") é um termo cunhado na década de 70 pelos biólogos e filósofos chilenos Francisco Varela e Humberto Maturana para designar a capacidade dos seres vivos de produzirem a si próprios. Segundo esta teoria, um ser vivo é um sistema autopoiético, caracterizado como uma rede fechada de produções moleculares (processos), onde as moléculas produzidas geram com suas interações a mesma rede de moléculas que as produziu. A conservação da autopoiese e da adaptação de um ser vivo ao seu meio são condições sistêmicas para a vida. Por tanto um sistema vivo, como sistema autônomo está constantemente se autoproduzindo, autorregulando, e sempre mantendo interações com o meio, onde este apenas desencadeia no ser vivo mudanças determinadas em sua própria estrutura, e não por um agente externo.
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