segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Capitulo 6 - QUEIMANDO DEBAIXO DA LUZ

Não sobra nada, mesmo enquanto nada haja sido tirado. A luz devastadora não é espelho, mas o que fica é a imagem do pobre diabo com seus mecanismos infantes agora quebrados e inúteis, suas desculpas e justificativas caladas, seu mundo irremediavelmente, irrevogavelmente mudado. Em um segundo, por mil anos.

Deus é um lenço de seda branco de um lado só, é o vento que agita o tecido sem trama causando uma onda única e eterna. Deus é uma chicotada no silencio, rompendo com trovão o firmamento imperscrutável. Eu sou o medo, a necessidade de estar vivo. Sou a pedra rolada morro acima, trabalho, sofrimento. Sou a lama que se deu nome, sou o barro seco pelo sol e o vento. Sou o andarilho em busca do porto que deixou, sou um dia atrás do outro, sou o velho, sou o tempo. Deus é a erosão dos meus planos, a chuva que desce a montanha, a mudança de caminho.

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