domingo, agosto 18, 2013

Sobreviver

Hoje acordei sonhando ou pensando em sonho.

Se um prisioneiro vivesse numa prisāo altamente perigosa aonde a expectativa (presumida) de vida fosse, digamos, menos de 5 anos e alguem lhe fornecesse uma pilula que o fizesse muito forte e resistente, capaz de enfrentar e vencer as lutas, mas que garantidamente ele morreria em 10 anos. Alem disso a propria industria que fornece a pilula fosse a que mantem a prisāo. Em relaçāo a tal pilula, e a toda a logica de seu consumo, de dentro da prisāo ela pareceria a coisa certa a se fazer, desejavel. Do lado de fora da prisāo a visāo sobre os fatos seria muito diferente.

De certo modo e em certa medida o mundo que vivemos tem essa configuraçāo, toda a tensāo da corrida de ratos, todo o medo e suspeita que somos levados a ter do próximo, e toda a pequena e grande corrupçāo de açāo, emoçāo e pensamento que somos induzidos a cometer por presumir que o mundo e nós mesmos somos de certa forma e nāo de outra. Um caldo de cultura violenta, aprisionante e de valoraçōes que nos alienam do real, do próximo, do presente, uma sufocaçāo da propria alma, e um sistema que nos fornece todo tipo de pilulas que nos dāo mais “10 anos de sobrevivencia” dentro desse cenário.

E nāo queria ir na direçāo dum Matrix aqui. Pode ser que nāo existam pilulas azuis, pode ser que a condiçāo de existencia daqueles que nāo se medicam nāo seja facilitada.

A menos que... Deixem voluntariamente de reproduzir os muros da prisāo, os comportamentos da prisāo, a voracidade e ganancia ansiosa da prisāo...

E aqui entro numa parte mais complexa, quase uma psicografia de minha ansiedade em relaçāo ao estado do mundo.

Existe uma pressāo sistemica em torno de um atrator diabólico, um eixo sequestrante de nosso mundo, um movimento excentrico que parece ser o real. Esse movimento está ganhando energia. Daí que vemos o horizonte do futuro como tenebroso e assustador.  O que consideramos ser o nexo da nossa passagem para o futuro vem de uma historicidade falsificada que nāo leva em conta toda a profundidade da existencia humana. Historicidade que nos coloca vindos de um passado idilico do qual decaimos, e um futuro aonde reconquistamos nosso lugar a direita do Trono divino (ou morremos lutando com Mad Max). Esse eixo falsificado de nossa existencia é apenas tangente e nāo aponta para o cerne real do Kosmos, é um deslocamento, e uma aceleraçāo frenetica e alienante dos fluxos do Universo. Mudar o eixo do seu spin para entrar em fase com o ciclo acolhedor, promissor e prospero do movimento galático é fundamental. 

E a pergunta que acompanha esse alinhamento é:

A quem voce serve?

Pode ser que precisemos ressucitar os Deuses gregos para que nos representem mais uma vez a imensidāo da alma humana, para que recobremos o pulso e o fogo divino em nossos coraçōes atemorizados. Pode ser que precisemos de  Hercules para conceber a amplitude que pode ter a açāo do individuo a serviço dos Deuses, o esforço, o sacrifício, a recompensa. Talvez nos faltem as histórias de caçadas e aventuras contadas na fogueira pra substituir as guerras de games eletronicos adrenalizando nossos cerebelos e retinas. 

É desesperador sentir que em nosso abraço e dança flutuante sobre essa esfera nāo nos olhamos amorosamente nos olhos, ao inves disso nos abraçamos como se estivessemos em queda livre e só um de nós tivesse paraquedas. Nossas almas estāo apertadas em garrafas pequenas, atormentadas por pensamentos fugazes e cronicos. 

Claro que essa nāo é verdade generalizada, elas nāo existem, é esse sentimento relativo de desesperança diante desse aprisionamento aparentemente irremediavel. Tantas vezes chego aqui nesse meu texto recorente e pesado e tento dar a volta, criar ao menos uma alternativa, uma saída. A verdade, essa sim uma verdade pessoal, é que nāo atingi essa realizaçāo que me de credito para dizer, vai tudo ficar bem.

Vai sim tudo ficar bem, é que eu nāo consigo ver como, o que talvez remeta para um segundo ponto, o da necessidade de se entregar, de largar māo do aperto mortal no meu coraçāo e deixar que bata livre.

Me rendo, me entrego.

Ao mesmo tempo que sou prisioneiro de um sistema sufocante, sou um fugitivo renitente da verdade do meu ser. Paradoxo máximo, minha liberdade final pode ser resultado de me entregar, de encerrar minha batalha por defender esses muros que me aprisionam, e os vicios que me alienam...e de encerrar minha carreira de “crimes”.

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