Muitas coisas na nossa situação moderna me enchem de agonia e preocupação. A nebulosidade as questões a nossa frente não se dissipa mesmo com as macro analises que nos apresentam tantos analistas modernos. Impossivel encontrar uma clara palavra de ordem, ou nitidez quanto a que ação tomar para o encaminhamento do futuro. A coisa não parece realmente estar em nossas mãos, e entretanto sentimos que nós humanos, justamente em função de nossa manipulação, seremos a causa de nossos sofrimentos futuros... Como podemos ser tão impotentes diante de nós mesmos? Eu realmente não sei responder e isso me entristece.
Recentemente li dois artigos interessantes, um sobre a falsidade do mito do pensamento apocaliptico e fatal e outro sobre a falsidade do mito do pensamento dum futuro glorioso e prometido aos justos. Nada nos safa completamente do enrosco de sermos humanos, entretanto lá no fundo em nossas mais elaboradas e racionais teorias surgem esses mesmos mitos para nos assombrar ou nos confortar. Acrescentaria a esses dois mitos mais dois o da crença num passado glorioso do qual decaimos bem como o de nossa origem em pecado. Não vou entrar aqui no finesse argumento, crendo que voces podem meditar sobre essas questões e entender esses pontos de vista. Eu pessoalmente não creio por exemplo na completa derrocada do capitalismo, mesmo enquanto almeje que a humanidade encontre um modo mais saudável de conviver com a mãe terra, suas dádivas finitas e com todo o resto da irmandade da vida que coabita essa esfera. Nada de bom para mim parece vir da aposta, e no esperar essa derrota, e na final ascenção prometida dos justos e dos bons ao paraiso (e pode-se ai ler, classe operária, os oprimidos, etc). Acho todo o julgamento moral que vem desse monóculo, desse jeito tão resolvido e monológico de encarar a realidade, um pouco cruel.
Penso no modo budista de encarar o que é o tempo, "os 3 tempos", Passado, Presente, Futuro como realidades não distantes, mas desdobramentos de minha propria consciencia, agora no não tempo. Toda a melancolia e enraizamento do passado, toda a promessa ou inquietude do futuro, toda a possibilidade ou imobilidade do presente só são reais agora. Dessa perspectiva qual é a questão real, aonde fica o fulcro mais fundamental aonde apoiar a minha pequena alavanca, se é que minha função é realmente deslocar qualquer coisa rumo a algum desfecho. Num espaço aonde nenhuma referencia existe, aonde não existem alavancas ou fulcros o primeiro arqueiro distendeu um arco e projetou uma uma flecha, a primeira dançarina apoiada em nenhuma superficie se lançou no silencio e fez música. E enquanto a gravidade nos precipita nesse plano e nos dá horizonte, a biologia nos faz verticais para alcançar frutas e estrelas. Dançamos e lançamos flechas, e suponho que o universo não faça conta de nosso começo, ou conte com nosso fim. Apenas surge agora atraves de nós, coom milagre. Um milagre que eleva a folha da grama recem cortada para que brote de novo. A folha de grama não se incomoda que eu pense que a vida está cansada de viver, ela apenas executa o milagre que é e brota de novo, sem fazer questão de explicar nada a ninguem. Sem esperar a derrocada do cortador.
Aguardo e peço por esse mesmo milagre, que me infunda de propósito e animo. Que me oriente por dentro mesmo quando o norte distante me escape da vista. Acredito que lá no fundo minha humanidade não esteja tão perdida, nem meu bom senso ensurdecido que não vá ouvir a voz do bom senso, ou se esqueça de navegar o vento abençoado da vida. Não por que me aguarde um futuro glorioso, ou por que um passado de virtude me garanta bonança, mas por que a vida me quer vivo, nos quer vivos. Por que a vida não nos cobra os pecados, ela só nos guarda bem, eternamente.
Tive um sonho enquanto meditava:
Me encontrava de costas para uma grande muralha que contornava um grande reino. Ao longo de sua enorme extensão lado a lado estátuas de grandes seres assustadores se encostavam nas paredes. Pude cruzar o gigantesco portão, e ao faze-lo percebi que a muralha corcoveava por sobre as montanhas altas em torno dum amplo planalto, a perder de vista, fechando-o ao sul, norte, oeste e leste. O portão era um de quatro e dele seguia uma estrada de pedras até o centro do planalto, como faziam outras tres vindas das outras entradas cardeais. Quatro rios seguiam para o centro, advindos do sudeste, nordeste, sudoeste e noroeste. Magicamente se encontrando no centro em um lago de prata. No centro uma espira gigantesca, um torreão agudo sobre um bulbo colossal apoiado em escadarias titanicas. A viagem tomou dias, passei por inumeras vilas, cheguei a um dos oito portos cruzei o lago cheguei a lha sagrada. Subi uma das desesseis encostas, passei pelo lado da enorme fundação e entrei por um arco monumental decorado de brocados. La dentro havia um palacio enorme, mouro e todo de ouro, com 4 entradas. Subi a escadaria colossal de marmore verde, adentrei o palacio. Encontrei uma enorme piramide e a galguei, no seu topo um imenso cristal iluminava todo o mundo. Cada face sua era a face de um ser da criação, de titãs ao mais infimo atomo, mergulhei nesse cristal, em sua luz. O mundo se dissolveu sem deixar de existir, em cima em baixo, frente verso, dentro fora... todas as faces da criação cantavam. Fiquei lá tempo incontável.
Acordei, desci a piramide, sai do palácio, atravessei o arco e sai da espira, encontrei o porto, cruzei o lago de prata, retornei na estrada e atravessei os povoados e me despedi dos anfitriãos, subi as encostas escarpadas, cruzei o muro, e o portão se fechou. Tinha retornado para o lado sul, para minha horta, pro meu telhado, pros meus instrumentos, pros meus familiares... A luz do cristal me acompanhava, me atravessando desde um centro que eu não posso entender, enquanto resido com os meus, tratando de minhas coisas, no lado sul da muralha guardada por demonios de pedra...
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